O impacto do álcool na mortalidade em acidentes de trânsito: uma questão de saúde pública

10/06/2025

O impacto do álcool na mortalidade em acidentes de trânsito: uma questão de saúde pública

Por Raique Almeida

            O estudo teve como objetivo correlacionar a mortalidade em acidentes de trânsito com o nível de alcoolemia em vítimas fatais na cidade do Rio de Janeiro, no período de dezembro de 2001 a fevereiro de 2002. Foram analisados 267 prontuários de óbitos registrados no Instituto Médico?Legal Afrânio Peixoto, que representaram cerca de 12% das mortes totais no período.

Os resultados revelaram que 88 vítimas (32,9%) foram submetidas ao exame de alcoolemia, sendo que 33% apresentaram níveis iguais ou superiores a 0,6?g/L de sangue, valor considerado positivo conforme o Código de Trânsito Brasileiro. Entre essas, 42,2% faleceram ainda em via pública e 16,6% em ambiente hospitalar. Verificou?se predominância de alcoolemia positiva em casos de atropelamento, colisão e queda de motocicleta. A análise também identificou aumento dos acidentes em fins de semana e feriados.

Chama atenção o padrão de consumo observado: 70,9% das vítimas com alcoolemia positiva apresentaram concentrações entre 1,0?g/L e mais de 2,0?g/L, evidenciando consumo abusivo de álcool  mais que o dobro do limite legal. A faixa etária predominante foi de 20 a 39 anos (36,6%), enquadrando?se como adultos em idade produtiva.

No contexto teórico, os autores ressaltam que acidentes de trânsito representam problema global de saúde pública, causam cerca de 1,2 milhão de mortes anuais no mundo e têm impacto econômico considerável. No Brasil, em 2000, foram registrados 22.102 óbitos em 324.222 acidentes com vítimas, representando até 2% do PIB. O álcool é apontado como um dos principais fatores associados a esses eventos, potencializado por alterações neurocognitivas mesmo em níveis baixos de alcoolemia. A legislação brasileira estipula limite de 0,6?g/L de álcool no sangue para motoristas.

O método utilizado foi descritivo quantitativo, com coleta de dados de prontuários mediante autorização do IML, assim como análise estatística por meio de gráficos e tabelas. Os autores discutem que a simples existência de limites legais não é suficiente, sendo necessária a efetividade das medidas de prevenção e controle, especialmente em momentos de maior risco, como fim de semana e feriados.

Nas considerações finais, os autores enfatizam a relevância da alcoolemia como indicador do nexo causal entre álcool e acidentes graves, alertando para a possível subnotificação das mortes em virtude de fraca relação direta entre causa de óbito e consumo alcoólico. Apontam ainda que mais de dois terços dos acidentes ocorrem em fins de semana, reforçando a urgência de ações preventivas e cobrando conscientização social e responsabilidade individual.

Dessa forma, o estudo, apesar de centrado em período restrito, demonstra a associação clara entre níveis elevados de alcoolemia e mortalidade em acidentes de trânsito, ressaltando a necessidade de estratégias integradas de educação, fiscalização e legislação para reduzir a ocorrência desses eventos, sobretudo entre jovens em idade produtiva.

 

Referências:

ABREU, Â. M. M.; LIMA, J. M. B.; LIMA, J. M. B. O impacto do álcool na mortalidade em acidentes de trânsito: uma questão de saúde pública. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v.?10, n.?1, p.?87–94, abr. 2006.

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