Rompendo com a criminalidade: saída de jovens do tráfico de drogas em favelas na cidade do RJ
21/06/2025

Por Raique Almeida
O artigo analisa os fatores que levam jovens moradores de favelas do Rio de Janeiro a abandonarem o tráfico de drogas, atividade que, embora ofereça status e ganhos rápidos, está profundamente associada à violência e à morte precoce. A pesquisa qualitativa, realizada por meio de entrevistas com trinta jovens de 16 a 24 anos que saíram do tráfico e viviam em áreas controladas pelo Terceiro Comando, buscou compreender as etapas do envolvimento com o tráfico e os caminhos percorridos até a saída definitiva dessa realidade. A metodologia utilizada foi baseada na história de vida tópica, permitindo captar os significados atribuídos pelos próprios sujeitos à sua trajetória de entrada, permanência e rompimento com a criminalidade.
Os resultados revelam que o ingresso no tráfico ocorre ainda na adolescência, geralmente motivado por uma combinação de fatores como ausência de oportunidades, busca por pertencimento, necessidade de reconhecimento social, consumo, e desejo de ascensão econômica rápida. Entretanto, com o tempo, os jovens passam a enfrentar um cotidiano de intensas tensões, punições violentas, constantes ameaças de morte, cobranças rígidas das lideranças do tráfico e exposição frequente a confrontos armados. Esse cenário leva à perda do encanto inicial e ao surgimento de sofrimento emocional, medo e fadiga crônica, que acabam despertando um desejo genuíno de mudança.
A decisão de sair do tráfico não ocorre de forma abrupta, mas sim como resultado de um processo de esgotamento físico e psicológico. Muitos dos entrevistados mencionaram momentos de reflexão pessoal, arrependimento por atos cometidos, e o desejo de construir uma nova trajetória de vida como elementos determinantes para o rompimento. Contudo, a possibilidade de saída segura e sustentável está diretamente ligada à presença de redes de apoio, como instituições religiosas, organizações não governamentais, familiares e projetos sociais que oferecem alternativas concretas de inserção social e profissional.
O estudo mostra que a simples vontade de sair não é suficiente para garantir a reintegração desses jovens à sociedade. É necessário que existam políticas públicas e ações sociais eficazes que acolham e deem suporte a esses sujeitos em sua nova caminhada. Assim, o abandono do tráfico não deve ser visto apenas como um ato individual, mas como um fenômeno social que depende da articulação entre subjetividade, apoio comunitário e políticas estruturantes. A pesquisa reforça, portanto, a importância de uma abordagem que valorize o protagonismo juvenil, reconheça as especificidades dos territórios vulneráveis e contribua para a construção de alternativas reais à criminalidade.
Referência:
MEIRELLES, Zilah Vieira; GOMES, Carlos Minayo. Rompendo com a criminalidade: saída de jovens do tráfico de drogas em favelas na cidade do Rio de Janeiro. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 5, p. 1797–1805, dez. 2009