Qualidade de vida e desesperança em familiares de dependentes químicos
22/05/2025

Por Raique Almeida
O artigo investiga os efeitos emocionais e psicossociais vivenciados por mulheres que convivem com adictos especialmente em comunidades periféricas. O estudo foi conduzido com 56 mulheres atendidas por um centro de intervenção localizado no Jardim Ângela, bairro de São Paulo conhecido por altos índices de violência, vulnerabilidade social e consumo elevado de substâncias psicoativas. A pesquisa teve como foco mensurar tanto a qualidade de vida dessas mulheres quanto os níveis de desesperança que apresentavam.
Os resultados revelaram que uma parcela significativa dessas mulheres apresentava sinais de sofrimento emocional. Aproximadamente 39% das participantes demonstraram desesperança mínima, enquanto 44% apresentaram níveis leves e 16% moderados a graves. A análise da qualidade de vida apontou que o domínio físico foi o mais preservado, com média de 14,45, seguido pelos domínios social (13,26), psicológico (12,57) e, por último, o meio ambiente, com uma média mais baixa de 10,68, indicando que fatores como insegurança urbana, ausência de serviços públicos adequados e condições precárias de moradia impactam diretamente a percepção de bem-estar dessas mulheres. Além disso, o estudo identificou que 23% das entrevistadas apresentavam quadros de depressão, e 5% apresentavam transtornos de ansiedade, reforçando o sofrimento mental vivenciado no contexto familiar marcado pela dependência química.
As autoras destacam que a convivência com um familiar dependente de substâncias psicoativas gera sobrecarga emocional, afetando negativamente a saúde mental e a qualidade de vida dos familiares, especialmente das mulheres, que costumam assumir o papel de cuidadoras principais. O ambiente familiar se torna tenso, imprevisível e emocionalmente desgastante, o que favorece o surgimento de sentimentos como tristeza, impotência e desesperança. O estudo mostra que, mesmo diante dessas dificuldades, muitas dessas mulheres continuam se dedicando à recuperação do familiar, o que evidencia um alto nível de comprometimento emocional, mas também a necessidade urgente de apoio externo.
Diante desse cenário, o artigo conclui que políticas públicas e programas de intervenção voltados especificamente aos familiares de adictos são essenciais. O suporte psicológico contínuo, ações educativas e acesso a serviços de saúde mental podem contribuir significativamente para a melhora da qualidade de vida e para a redução da desesperança entre essas mulheres. Ao fortalecer a rede de apoio aos familiares, é possível não apenas melhorar a saúde psíquica dessas pessoas, mas também criar um ambiente mais estável e favorável ao processo de recuperação dos adictos. Trata-se, portanto, de uma questão que ultrapassa o indivíduo em tratamento e que exige uma abordagem ampliada e integrada, incluindo os familiares no processo terapêutico de forma sistemática e acolhedora.
Referências:
ARAGÃO, Antonio Teulberto Mesquita; MILAGRES, Elizabete; FIGLIE, Neliana Buzi. Qualidade de vida e desesperança em familiares de dependentes químicos. Psico-USF, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 117-123, 2009.