O 12º Passo no AA: Serviço, Espiritualidade e Transformação

Por Raique Almeida

            Esse passo sintetiza o caminho percorrido na recuperação: após trilhar um processo de autoconhecimento, reparação e fortalecimento espiritual, o membro é convidado a compartilhar sua experiência com outros que ainda sofrem. Ele expressa a importância do serviço, entendido não apenas como ajudar outros alcoólicos, mas como uma prática cotidiana de solidariedade, humildade e responsabilidade social.

            De acordo com Narcóticos Anônimos (2014), a transmissão da mensagem não é apenas uma recomendação, mas um componente essencial da manutenção da sobriedade: “somente conservamos o que temos ao partilhá-lo com outros”. Esse princípio ecoa também em Paulo Freire (1996), quando afirma que a prática transformadora exige compromisso com o outro e com a coletividade, já que a libertação não ocorre de forma isolada, mas em diálogo e ação solidária.

            O despertar espiritual descrito no 12º passo pode ser compreendido, segundo William James (1995), como uma experiência de “segunda vida”, em que o indivíduo reorienta sua existência em direção a novos valores e significados. Essa renovação torna-se não apenas individual, mas também comunitária, pois a espiritualidade é posta em prática no relacionamento com os demais.

            Assim, o 12º passo encerra o ciclo dos Alcoólicos Anônimos destacando que a sobriedade não se sustenta apenas no cuidado pessoal, mas também no compromisso com a partilha, no fortalecimento dos vínculos comunitários e na vivência constante de princípios espirituais.

Referências

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS. O Livro Azul. São Paulo: JUNAAB, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

JAMES, William. As Variedades da Experiência Religiosa. São Paulo: Cultrix, 1995.

NARCÓTICOS ANÔNIMOS. Texto Básico. Rio de Janeiro: NA World Services, 2014.