Iniciação Precoce ao Consumo de Álcool em Pequenas Cidades do Interior do Brasil
09/08/2025

Por Raique Almeida
O consumo precoce de bebidas alcoólicas é um fenômeno amplamente observado em pequenas cidades do interior do Brasil, onde fatores socioculturais e a ausência de fiscalização efetiva contribuem para a normalização dessa prática entre adolescentes. Segundo Laranjeira. (2012), o álcool é a droga mais consumida no país, com início do uso frequentemente antes dos 18 anos, o que está associado a maiores riscos de dependência e danos à saúde física e mental. Nas localidades interioranas, a proximidade entre moradores, a forte influência de festas comunitárias e o enraizamento de práticas culturais que envolvem o consumo de álcool favorecem um ambiente permissivo, dificultando a prevenção.
Estudos apontam que, nessas regiões, a iniciação costuma ocorrer em eventos familiares, como aniversários, casamentos e festas religiosas, nas quais o consumo é interpretado como sinal de integração social (Pinsky; Bessa, 2004). Essa naturalização tende a reduzir a percepção de risco, tanto entre jovens quanto entre pais e responsáveis. De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA, 2025), adolescentes que iniciam o consumo antes dos 15 anos apresentam quatro vezes mais chances de desenvolver dependência alcoólica na vida adulta, quando comparados aos que começam após a maioridade.
A facilidade de acesso também se destaca como fator agravante. Em muitos municípios do interior, bares e mercearias vendem bebidas alcoólicas sem exigir comprovação de idade, mesmo diante da proibição legal prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/1990). Essa fragilidade no controle é potencializada pela falta de campanhas educativas voltadas especificamente para essas comunidades, onde a saúde pública, muitas vezes, enfrenta limitações estruturais (Silveira; Ronzani, 2012).
O impacto da iniciação precoce não se restringe à saúde individual. Há evidências de que o uso abusivo de álcool entre adolescentes está relacionado ao aumento de comportamentos de risco, como envolvimento em acidentes de trânsito, práticas sexuais desprotegidas e violência interpessoal (World Health Organization, 2018). Nas pequenas cidades, tais ocorrências têm repercussões intensas, dada a forte interconexão social, gerando problemas que se estendem para a família e para a comunidade.
Assim, é imprescindível que políticas públicas de prevenção ao uso precoce de álcool considerem as especificidades culturais e socioeconômicas do interior do Brasil. Programas educativos nas escolas, ações comunitárias e o fortalecimento da fiscalização podem contribuir para reduzir a banalização do consumo entre adolescentes. Como destacam Babor. (2010), a combinação de medidas educativas e regulatórias é a estratégia mais eficaz para retardar a iniciação e minimizar os danos associados ao álcool.
Em síntese, a iniciação precoce ao consumo de álcool em pequenas cidades do interior brasileiro é um fenômeno enraizado em tradições culturais e sustentado pela fragilidade das políticas de controle. A compreensão de suas particularidades é fundamental para a formulação de estratégias preventivas que sejam culturalmente sensíveis e socialmente eficazes.
Referências
BRASIL. Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 16 jul. 1990.
CISA – CENTRO DE INFORMAÇÕES SOBRE SAÚDE E ÁLCOOL. Álcool e adolescência: riscos e estatísticas. São Paulo, 2025. Disponível em: https://www.cisa.org.br. Acesso em: 9 ago. 2025.
LARANJEIRA, R. II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD). São Paulo: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD), 2012.
PINSKY, I.; BESSA, M. A. Adolescência e uso de bebidas alcoólicas: um estudo bibliográfico. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 26, supl. 1, p. 44-48, 2004.
SILVEIRA, P. S.; RONZANI, T. M. Políticas públicas sobre o consumo de álcool no Brasil: breve análise histórica. Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 3, p. 857-872, 2012.