Uso de álcool como causa necessária de morte no Brasil, 2010 a 2012
10/06/2025

Por Raique Almeida
O estudo teve como objetivo analisar os óbitos em que o consumo de álcool foi identificado como causa necessária, ou seja, quando o uso de bebidas alcoólicas foi condição imprescindível para a ocorrência do evento letal. A pesquisa utilizou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), mantido pelo Ministério da Saúde, e aplicou os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) que apontam causas de morte completamente atribuíveis ao uso de álcool. O período analisado foi de 2010 a 2012, abrangendo todos os estados brasileiros.
Os resultados revelaram que, nesse triênio, ocorreram aproximadamente 52 mil mortes diretamente relacionadas ao consumo de álcool, o que representa cerca de 2,5% do total de óbitos registrados no país. A análise demonstrou variações significativas por sexo, faixa etária e região geográfica. A maioria das mortes ocorreu entre homens (88%), com maior concentração nas faixas etárias de 40 a 49 anos e de 50 a 59 anos, refletindo padrões de consumo mais intensos e prolongados nesse grupo populacional.
Em termos regionais, observou-se maior mortalidade nas regiões Norte e Nordeste, embora a região Sul tenha apresentado taxas proporcionalmente elevadas. As causas mais frequentes de morte foram os transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool, seguidos pelas doenças hepáticas alcoólicas. Além disso, o estudo ressaltou a importância das mortes violentas, como acidentes e lesões autoprovocadas, que embora não estejam incluídas como causas necessárias, possuem forte associação com o consumo de álcool.
Os autores destacam que o impacto do álcool sobre a mortalidade é subestimado quando se consideram apenas os óbitos totalmente atribuíveis ao seu uso, uma vez que há muitas outras doenças e eventos letais em que o álcool atua como fator de risco. Diante disso, o artigo defende a necessidade de políticas públicas mais eficazes e abrangentes, que incluam estratégias de prevenção e controle do uso abusivo de bebidas alcoólicas, integrando ações de saúde, educação e regulação da comercialização de álcool.
O estudo também sugere melhorias na qualidade dos registros de óbito, especialmente no que se refere à identificação do papel do álcool como causa básica. Em síntese, a pesquisa evidencia que o uso de álcool representa um grave problema de saúde pública no Brasil, com impacto direto na mortalidade da população, sendo urgente o enfrentamento desse quadro por meio de ações intersetoriais e baseadas em evidências epidemiológicas.
Referência:
Garcia LP, Freitas LRS, Gawryszewski VP, Duarte EC. Uso de álcool como causa necessária de morte no Brasil, 2010 a 2012. Rev Panam Salud Publica. 2015;38(5):418-24.