Dependência de drogas
21/04/2025

Por Miriam Garcia Mijares e Maria Teresa Araújo Silva
O artigo apresenta uma análise crítica de três teorias contemporâneas que buscam explicar a dependência de drogas. As autoras exploram as contribuições da teoria comportamental da dependência como escolha, da teoria da sensibilização do incentivo e da teoria neurobiológica da dependência, com o objetivo de entender os mecanismos que tornam o consumo compulsivo e prejudicial.
A primeira teoria discutida é a de Gene Heyman, que interpreta a dependência como uma escolha baseada em comportamentos aprendidos. De acordo com essa perspectiva, o consumo de drogas não é uma compulsão incontrolável, mas uma preferência reforçada por experiências prazerosas que, com o tempo, sobrepõem-se a outras fontes de recompensa, como o trabalho ou os relacionamentos. Isso significa que o indivíduo não perde sua capacidade de escolha, mas passa a tomar decisões influenciadas por reforços desproporcionais relacionados ao uso da substância.
Em seguida, o artigo aborda a teoria da sensibilização do incentivo, proposta por Robinson e Berridge, que oferece uma abordagem neurobiológica ao fenômeno da dependência. Essa teoria sugere que, com o uso repetido da droga, o sistema cerebral de motivação sofre uma sensibilização, fazendo com que os estímulos associados ao consumo se tornem exageradamente atraentes. O resultado é um aumento do desejo pela droga, mesmo que o prazer que ela proporciona diminua com o tempo. Esse processo ajuda a explicar por que indivíduos continuam consumindo substâncias mesmo diante de efeitos adversos ou de perda do prazer inicial.
Por fim, é apresentada a teoria neurobiológica da dependência como escolha, desenvolvida por Kalivas, que busca integrar elementos das abordagens anteriores. Kalivas propõe que o uso crônico de drogas causa alterações nos circuitos cerebrais responsáveis pelo controle do comportamento, especialmente nas vias dopaminérgicas e glutamatérgicas. Essas mudanças comprometem a capacidade de avaliar e modificar escolhas, favorecendo a repetição do comportamento de consumo, mesmo diante de consequências negativas.
As autoras concluem que, embora essas teorias tenham pontos de partida distintos comportamental ou neurobiológico, elas não são necessariamente excludentes. Pelo contrário, todas reconhecem que a dependência de drogas é um fenômeno multifacetado, que envolve tanto processos de aprendizagem quanto alterações fisiológicas no cérebro. Essa compreensão integrada permite pensar em estratégias de tratamento mais eficazes, que levem em consideração tanto o contexto social e psicológico do indivíduo quanto os mecanismos neurobiológicos que sustentam o comportamento do adicto.
Ao apresentar essas três vertentes teóricas, o artigo contribui para um entendimento mais abrangente e complexo da dependência, ressaltando que o consumo abusivo de drogas não é fruto apenas de escolha racional, tampouco de mera disfunção cerebral, mas de uma interação dinâmica entre fatores individuais, sociais e biológicos.