A influência dos influenciadores digitais na naturalização dos jogos de azar online

31/08/2025

A influência dos influenciadores digitais na naturalização dos jogos de azar online

Por Raique Almeida

            Nos últimos anos, a popularização de jogos de azar em plataformas digitais, como o chamado “jogo do tigrinho”, ganhou força sobretudo pela atuação de influenciadores digitais, que exercem papel significativo na construção de tendências e no consumo de práticas de risco. A exposição constante de conteúdos que retratam esses jogos como uma fonte de renda fácil e divertida tem contribuído para a banalização de comportamentos que envolvem potenciais danos sociais e psicológicos, sobretudo entre jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade econômica (SOUZA; ALMEIDA, 2022).

            A partir da lógica mercadológica que permeia as redes sociais, influenciadores transformam o jogo em um produto simbólico, reforçando a ideia de sucesso rápido e acessível. De acordo com Recuero (2020), os influenciadores digitais atuam como mediadores culturais, legitimando discursos e estilos de vida que passam a ser imitados por seus seguidores. Nesse sentido, a divulgação de jogos de azar é revestida de uma linguagem de entretenimento e prosperidade, ocultando os riscos da dependência e da perda financeira.

            Além do impacto econômico direto, a banalização do jogo de azar online produz efeitos psicológicos relevantes. Estudos apontam que a repetida exposição a conteúdos de incentivo ao jogo aumenta a vulnerabilidade de indivíduos a desenvolver comportamentos compulsivos, aproximando-se da dinâmica da dependência química, já que ambos estimulam os sistemas de recompensa cerebral (CUNHA; VASCONCELOS, 2021). Essa naturalização, portanto, não se restringe ao campo do lazer, mas reflete um processo de normalização de práticas potencialmente destrutivas, legitimadas por figuras de autoridade digital.

            Do ponto de vista social, a associação entre jogos de azar e ascensão financeira cria ilusões que se alinham a uma lógica neoliberal de responsabilização individual, segundo a qual o fracasso ou sucesso depende apenas da ação do sujeito. Como aponta Bauman (2008), a sociedade contemporânea reforça a busca incessante por soluções rápidas para problemas complexos, o que explica em parte a adesão a jogos de azar como uma promessa de superação imediata das dificuldades. Entretanto, esse discurso mascara as estruturas de exploração presentes nesses sistemas de apostas, nos quais as plataformas e empresas lucram às custas da vulnerabilidade dos jogadores.

            Nesse cenário, torna-se urgente discutir políticas públicas e formas de regulação que coíbam a promoção irresponsável desses jogos por influenciadores digitais. Ao mesmo tempo, é fundamental investir em ações de conscientização que abordem os riscos psicológicos e financeiros envolvidos, favorecendo uma perspectiva crítica diante das estratégias de persuasão. Dessa forma, a análise da influência digital no contexto do jogo de azar online revela não apenas a naturalização de práticas nocivas, mas também o papel determinante das redes sociais na formação de valores e comportamentos na contemporaneidade.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

CUNHA, Leonardo; VASCONCELOS, Marta. Comportamentos aditivos e jogos de azar: uma análise psicológica. São Paulo: Cortez, 2021.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2020.

SOUZA, André; ALMEIDA, Cláudia. Mídias digitais e jogos de azar: práticas de risco na era da influência. Belo Horizonte: Autêntica, 2022.

Blog

Informações sobre prevenção, tratamento e recuperação da dependência química e alcoolismo

Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.