Contações femininas: gênero e percepções de mulheres dependentes químicas

27/04/2025

Contações femininas: gênero e percepções de mulheres dependentes químicas

Por Erika Ravena Batista Gomes e Aline Veras Morais Brilhante

            O artigo publicado na revista Saúde e Sociedade, investiga como as questões de gênero influenciam a vivência da dependência química entre mulheres. A pesquisa qualitativa foi conduzida com oito mulheres usuárias de substâncias psicoativas, tanto lícitas quanto ilícitas, residentes em Picos, no interior do Piauí. As entrevistas foram realizadas remotamente, via WhatsApp, durante o período de isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19.

A análise das entrevistas, baseada na metodologia de análise de conteúdo de Bardin e fundamentada em estudos de gênero pós-estruturalistas, revelou que as experiências dessas mulheres com a dependência química são profundamente moldadas por construções sociais de gênero. As participantes relataram histórias de abandono, negligência e violência desde a infância, destacando como essas vivências influenciaram sua trajetória no uso de substâncias. Muitas expressaram sentimentos de culpa e vergonha, exacerbados por expectativas sociais que associam a feminilidade à pureza, cuidado e recato.

O estudo também evidenciou que a sociedade tende a julgar mais severamente as mulheres adictas em comparação aos homens. Enquanto o uso de substâncias por homens pode ser socialmente tolerado ou até incentivado, as mulheres enfrentam estigmas que as rotulam como desviantes, imorais ou negligentes, especialmente quando são mães. Esse julgamento social contribui para o isolamento dessas mulheres e dificulta seu acesso a serviços de saúde e apoio.?

Além disso, a pesquisa apontou para a invisibilidade de mulheres que não se enquadram nos padrões normativos de gênero e sexualidade, como lésbicas, bissexuais e transgêneros. A ausência dessas vozes na pesquisa sugere a necessidade de estudos futuros que abordem a diversidade de experiências entre mulheres adictas.?

Em conclusão, o artigo destaca a importância de considerar as questões de gênero na compreensão e no tratamento da dependência química entre mulheres. Reconhecer as especificidades dessas experiências é fundamental para desenvolver políticas públicas e práticas de cuidado mais inclusivas e eficazes.

 

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