Manifestações cutâneas decorrentes do uso de drogas ilícitas
25/06/2025

Por Raique Almeida
O artigo aborda de forma didática e abrangente as principais alterações dermatológicas associadas ao consumo de substâncias ilícitas. O estudo destaca a importância da observação clínica por parte dos dermatologistas, já que certas manifestações cutâneas podem ser sinais precoces ou até mesmo diagnósticos auxiliares para o reconhecimento do uso abusivo de drogas. Além disso, essas manifestações, por vezes, se apresentam como sintomas principais em pacientes que relutam em revelar o histórico de uso, o que torna essencial a acurácia na avaliação clínica.
Os autores iniciam contextualizando o uso de drogas ilícitas como um problema de saúde pública mundial, com repercussões físicas, psicológicas e sociais importantes. Ressaltam que a pele, por ser um órgão visível e acessível ao exame físico, frequentemente reflete o impacto direto e indireto do uso de entorpecentes, incluindo desde reações tóxicas, infecções secundárias e alterações vasculares até fenômenos imunológicos. Dentre os principais agentes abordados no artigo, destacam-se a heroína, a cocaína (inclusive o crack), as anfetaminas e os solventes inalantes, além da maconha, com destaque para seus efeitos dermatológicos específicos.
A cocaína, por exemplo, pode provocar necrose cutânea devido à vasoconstrição intensa, e sua administração nasal ou intravenosa está associada a lesões ulceradas, celulites, abscessos e tromboses locais. O uso crônico de heroína, por sua vez, é frequentemente relacionado à presença de escoriações, cicatrizes lineares e pápulas pruriginosas, além de infecções bacterianas recorrentes em locais de aplicação subcutânea. Já os solventes e inalantes, comuns entre adolescentes, apresentam risco elevado de dermatite de contato, ressecamento da pele e irritações crônicas, muitas vezes negligenciadas em ambientes clínicos.
O estudo também chama atenção para a associação do uso de drogas com doenças infecciosas, como HIV, hepatites virais e sífilis, cujas manifestações dermatológicas são amplamente documentadas e podem ser agravadas pelo uso concomitante de entorpecentes. Além disso, os autores destacam o comportamento de automutilação e negligência com a higiene pessoal, que agrava quadros dermatológicos já existentes. Os sinais cutâneos, portanto, funcionam como marcadores importantes não apenas da substância consumida, mas do contexto de vulnerabilidade social e psicológica desses indivíduos.
Por fim, os autores defendem que o dermatologista, muitas vezes o primeiro profissional de saúde a ter contato com o adicto, deve estar preparado para reconhecer esses sinais e encaminhar o paciente para acompanhamento multidisciplinar. O artigo evidencia, portanto, a importância da formação continuada em dermatologia no contexto das doenças relacionadas ao uso de drogas, enfatizando a necessidade de empatia, escuta qualificada e atuação integrada com outros profissionais da saúde.
Referência:
GONTIJO, Bernardo; BITTENCOURT, Flávia Vasques; LOURENÇO, Lívia Flávia Sebe. Manifestações cutâneas decorrentes do uso de drogas ilícitas. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 81, n. 4, p. 349–360, ago. 2006.