As Drogas Na Contemporaneidade: Perspectivas Clínicas e Culturais

21/06/2025

As Drogas Na Contemporaneidade: Perspectivas Clínicas e Culturais

Por Raique Almeida

            A obra propõe uma análise crítica e aprofundada do fenômeno das drogas a partir de uma perspectiva interdisciplinar, que articula os campos da clínica e da cultura. Ao abordar o uso de substâncias psicoativas como uma prática socialmente construída, o texto questiona os modelos tradicionais baseados na repressão, na criminalização e na patologização dos adictos. Em vez de reduzir o consumo de drogas a uma questão estritamente médica ou legal, os autores exploram os múltiplos significados que esse consumo assume em diferentes contextos históricos, sociais e simbólicos, evidenciando a diversidade de experiências e trajetórias dos sujeitos envolvidos.

O livro defende a necessidade de repensar as práticas de cuidado, promovendo abordagens centradas na escuta, na singularidade do sujeito e na construção de vínculos terapêuticos mais horizontais. A crítica ao modelo biomédico hegemônico é constante, especialmente no que se refere à sua tendência de desconsiderar os aspectos subjetivos, culturais e existenciais do uso de drogas. Nesse sentido, a redução de danos é apresentada não apenas como uma estratégia técnica, mas como uma postura ética e política, que reconhece a autonomia dos adictos e busca minimizar os riscos e sofrimentos associados ao uso abusivo, sem impor a abstinência como única via possível.

A obra também chama atenção para os impactos sociais das políticas proibicionistas, que historicamente têm contribuído para a marginalização e estigmatização de determinados grupos, como jovens pobres e negros, reforçando desigualdades estruturais. Ao problematizar a naturalização dessas políticas, os autores propõem uma reflexão crítica sobre os discursos de autoridade que sustentam o controle sobre os corpos e comportamentos desviantes. Além disso, são discutidos os usos rituais e culturais das substâncias em determinadas tradições, como forma de questionar o olhar ocidental e normativo sobre o que é considerado "uso problemático".

A articulação entre clínica e cultura se revela fundamental para a compreensão da complexidade do tema. O cuidado em saúde mental é abordado como um campo em disputa, que deve incorporar diferentes saberes e práticas, valorizando as narrativas dos próprios adictos e promovendo a construção compartilhada de soluções. A obra convida, assim, ao desenvolvimento de políticas públicas mais sensíveis às realidades locais, menos punitivas e mais voltadas para a inclusão social e a promoção de direitos, defendendo uma abordagem integral, plural e ética para lidar com a questão das drogas na contemporaneidade.

Referência:

NERY FILHO, Antonio; MACRAE, Edward; TAVARES, Luiz Alberto; NUÑEZ, Maria Eugênia; RÊGO, Marlize (org.). As drogas na contemporaneidade: perspectivas clínicas e culturais. Salvador: EDUFBA, 2012.

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