Drogas, conflito e os EUA: a Colômbia no início do século
15/06/2025

Por Raique Almeida
O artigo crítica a relação entre o narcotráfico, o conflito armado interno colombiano e a intervenção dos Estados Unidos no início do século XXI. O autor contextualiza historicamente a formação de um conflito que, embora tenha raízes políticas e sociais profundas, foi progressivamente redefinido pelo peso da economia ilegal das drogas. A partir da década de 1980, a Colômbia tornou-se um dos principais centros de produção e exportação de cocaína do mundo, o que transformou significativamente a dinâmica dos atores armados tanto guerrilhas quanto grupos paramilitares e intensificou a violência no país. O narcotráfico não apenas forneceu recursos financeiros para a sustentação das ações militares de tais grupos, como também corrompeu instituições estatais e aprofundou a fragilidade das estruturas democráticas.
No centro da análise está o papel dos Estados Unidos, especialmente por meio do Plano Colômbia, uma estratégia de cooperação bilateral lançada no final dos anos 1990 que, sob o discurso oficial de combate às drogas e ao terrorismo, priorizou a militarização do território colombiano. Segundo Valencia, essa política teve efeitos ambíguos embora tenha enfraquecido parcialmente alguns setores da guerrilha e aumentado a presença do Estado em determinadas regiões, não conseguiu reduzir significativamente a produção e o tráfico de drogas. Pelo contrário, contribuiu para a dispersão dos cultivos ilícitos, agravou os deslocamentos forçados da população civil e fortaleceu grupos armados ilegais como os paramilitares, que mantinham estreitas conexões com setores do poder político e econômico.
O autor também destaca as contradições da política antidrogas estadunidense, que concentrou esforços na repressão à oferta de entorpecentes nos países produtores, sem enfrentar com igual vigor a demanda interna norte-americana verdadeiro motor do mercado ilegal. Valencia argumenta que a guerra contra as drogas, na prática, serviu como instrumento geopolítico de controle regional, reproduzindo uma lógica de dominação e intervenção que pouco contribuiu para a resolução dos problemas sociais da Colômbia. O texto conclui apontando para a necessidade de um novo paradigma de enfrentamento ao narcotráfico, mais centrado em estratégias de desenvolvimento, reforma agrária, fortalecimento institucional e justiça social, que reconheça as raízes complexas e multifatoriais do conflito colombiano. A crítica central reside na constatação de que a simples militarização da política antidrogas não apenas é ineficaz, como também intensifica os ciclos de violência, marginalização e dependência externa no contexto latino-americano.
Referência:
VALENCIA, León. Drogas, conflito e os EUA: a Colômbia no início do século. Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n. 55, p. 125-146, dez. 2005.