A normalização do consumo de drogas pelas redes sociais e seus impactos na juventude contemporânea
24/08/2025

Por Raique Almeida
Nos últimos anos, o advento das redes sociais tem transformado de maneira significativa a forma como os indivíduos se comunicam, interagem e constroem suas identidades. Entretanto, um fenômeno preocupante emerge nesse cenário: a normalização do consumo de drogas em ambientes digitais, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. A banalização do uso de substâncias psicoativas, quando veiculada por influenciadores digitais e figuras públicas, pode contribuir para a construção de uma cultura permissiva em relação ao uso, reduzindo a percepção de risco e incentivando a experimentação (SILVA; FREITAS, 2021).
O processo de normalização é alimentado pela estética das publicações, que frequentemente associam o consumo de drogas a estilos de vida glamourizados, de liberdade e pertencimento social. Para Recuero (2020), as redes sociais atuam como espaços de legitimação simbólica, onde práticas e comportamentos podem ser amplificados e ganhar status de aceitabilidade. Dessa forma, o consumo de substâncias que antes era marginalizado passa a ser apresentado como parte de um repertório cotidiano, impactando diretamente a construção de significados sociais.
Além disso, a exposição contínua a conteúdos relacionados ao consumo pode influenciar a percepção de jovens sobre o tema. Estudos indicam que a repetição e a naturalização do uso de drogas em ambientes digitais reduzem a consciência crítica e enfraquecem a noção de risco associada às consequências físicas, psicológicas e sociais do uso abusivo (CARVALHO; LOPES, 2022). Esse fenômeno pode ser compreendido sob a ótica da teoria do aprendizado social, proposta por Bandura (2008), segundo a qual os indivíduos aprendem comportamentos a partir da observação de modelos, especialmente quando estes são percebidos como populares ou bem-sucedidos.
Outro aspecto relevante é a dimensão econômica e política desse processo. Muitas plataformas digitais não possuem mecanismos efetivos de controle sobre a circulação de conteúdos que promovem o consumo de drogas, o que potencializa a propagação de mensagens nocivas. Ademais, a lógica algorítmica, que privilegia conteúdos engajadores, favorece a disseminação de publicações que exibem o uso de substâncias, uma vez que estas despertam curiosidade e interações, ainda que negativas (CASTELLS, 2018).
A normalização do consumo de drogas pelas redes sociais, portanto, não é apenas uma questão de liberdade de expressão, mas sim um problema de saúde pública e de responsabilidade social. Para Freire e Almeida (2023), a exposição constante a esse tipo de conteúdo pode reforçar vulnerabilidades emocionais e sociais, especialmente em jovens que buscam pertencimento e reconhecimento. Nesse contexto, torna-se essencial o fortalecimento de políticas públicas de prevenção, campanhas educativas e a responsabilização das plataformas digitais no controle e monitoramento desses conteúdos.
Dessa maneira, compreende-se que a luta contra a banalização do consumo de drogas nas redes sociais exige um esforço coletivo que envolve famílias, escolas, instituições de saúde e a própria sociedade civil. A crítica ao processo de normalização precisa ser ampliada para que a juventude contemporânea possa desenvolver consciência crítica e autonomia frente às pressões culturais que promovem comportamentos de risco. Assim, a reflexão sobre o papel das redes sociais no incentivo ou combate ao consumo de drogas mostra-se imprescindível para a construção de uma sociedade mais saudável e informada.
Referências
BANDURA, A. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008.
CARVALHO, J.; LOPES, F. Juventude digital e uso de drogas: um estudo sobre percepções e riscos. Revista Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 1-15, 2022.
CASTELLS, M. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
FREIRE, R.; ALMEIDA, R. Drogas, juventude e redes sociais: desafios contemporâneos. Revista Psicologia em Foco, Belo Horizonte, v. 15, n. 1, p. 45-62, 2023.
RECUERO, R. Redes sociais na internet. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2020.
SILVA, M.; FREITAS, P. Normalização do uso de drogas em mídias digitais: um olhar sobre influenciadores. Revista Brasileira de Estudos da Juventude, Brasília, v. 9, n. 3, p. 120-138, 2021.