Liberdade é Escolha: A Consciência no Uso e no Recuso

05/08/2025

Liberdade é Escolha: A Consciência no Uso e no Recuso

Por Raique Almeida

 

            A liberdade, frequentemente romantizada como um ideal absoluto, está profundamente ligada à capacidade de fazer escolhas conscientes, especialmente quando se trata do uso de substâncias psicoativas. Em sociedades marcadas pelo consumo exacerbado, refletido tanto no uso de drogas lícitas quanto ilícitas, pensar o autocontrole como prática de liberdade é um ato revolucionário.

            Segundo Bauman (2001), na modernidade líquida, os vínculos se tornam frágeis e as decisões mais impulsivas. O sujeito contemporâneo está constantemente exposto a estímulos que promovem o prazer imediato, dificultando a reflexão crítica e a autodisciplina. Neste contexto, o uso de drogas muitas vezes aparece como resposta rápida a angústias pessoais e coletivas.

            Entretanto, como destaca Freire (1996), a educação libertadora deve promover a autonomia do sujeito, permitindo que ele compreenda sua realidade e tome decisões conscientes. Escolher não usar drogas ou interromper seu uso, portanto, é também um gesto de liberdade construída e não apenas de negação. Trata-se da capacidade de dizer "não" a partir de um "sim" profundo a si mesmo.

            A psicologia contemporânea reforça essa visão ao destacar o papel do autocontrole na autorregulação emocional. De acordo com Mischel (2014), no famoso “teste do marshmallow”, crianças que conseguiam adiar a gratificação imediata apresentaram, anos depois, melhores índices de sucesso pessoal e profissional. Isso sugere que a capacidade de controlar impulsos e refletir antes de agir está diretamente relacionada ao bem-estar a longo prazo.

            No caso específico do uso de drogas, o autocontrole não deve ser compreendido como repressão, mas como habilidade a ser cultivada por meio de práticas educativas, apoio emocional e construção de vínculos sociais saudáveis. Como aponta Caldas (2004), a prevenção não se faz pelo medo, mas pela valorização da vida e pelo fortalecimento da autoestima.

            Assim, "liberdade é escolha" significa ter consciência das consequências e das possibilidades, compreendendo que o recuso ao uso de substâncias pode ser uma forma potente de afirmação pessoal. O recuso não é repressão moralista, mas uma afirmação do próprio direito de existir com lucidez e autonomia.

 

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

CALDAS, Rosely Sayão. A difícil tarefa de educar: drogas, valores e limites. São Paulo: Moderna, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MISCHEL, Walter. O teste do marshmallow: como o autocontrole pode mudar sua vida. São Paulo: Objetiva, 2014.

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