Relação do uso da cannabis com o desenvolvimento de transtornos mentais: Revisão bibliográfica
11/06/2025

Por Raique Almeida
O artigo consiste em uma revisão bibliográfica que visa compreender os impactos do uso da cannabis sobre a saúde mental dos indivíduos, com especial atenção à correlação entre o consumo da substância e o surgimento ou agravamento de transtornos psiquiátricos. As autoras basearam-se em literatura científica nacional e internacional para investigar a associação entre o uso recreativo e abusivo da cannabis e desfechos como psicose, esquizofrenia, transtornos de ansiedade e depressão. A pesquisa enfatiza que, apesar do uso da cannabis ser amplamente difundido, principalmente entre adolescentes e adultos jovens, existe um crescente corpo de evidências que aponta para os riscos significativos à saúde mental, especialmente entre indivíduos com predisposição genética ou história familiar de transtornos mentais.
O trabalho destaca que o tetrahidrocanabinol (THC), principal componente psicoativo da planta, atua no sistema endocanabinoide do cérebro, alterando a neurotransmissão e afetando funções cognitivas, emocionais e comportamentais. A exposição precoce à cannabis, sobretudo durante a adolescência fase crítica do desenvolvimento cerebral, é considerada um dos fatores mais preocupantes, já que pode interferir em processos neurobiológicos importantes e contribuir para o desenvolvimento de doenças psiquiátricas ao longo da vida. Além disso, os autores mencionam que o aumento da potência da cannabis disponível no mercado, com concentrações mais elevadas de THC, intensifica os riscos de efeitos adversos, como surtos psicóticos e dependência.
Outro ponto relevante abordado pela revisão é a necessidade de distinguir o uso medicinal do uso recreativo da cannabis. Embora alguns estudos apontem para benefícios terapêuticos de certos compostos da planta, como o canabidiol (CBD), o uso indiscriminado e sem acompanhamento médico pode ter efeitos deletérios significativos. A literatura consultada pelas autoras indica que o consumo frequente da cannabis está associado a um aumento da incidência de esquizofrenia em populações vulneráveis, além de agravar quadros pré-existentes de ansiedade e depressão. Os estudos analisados também apontam que há uma tendência à subestimação dos riscos do uso da cannabis por parte dos usuários, o que contribui para o uso contínuo e para a ausência de busca por ajuda profissional.
Conclui-se que, embora existam discursos sociais e movimentos favoráveis à legalização da cannabis, é fundamental que as políticas públicas e a prática clínica estejam alicerçadas em evidências científicas robustas. O uso da cannabis, principalmente em indivíduos jovens e em contextos não supervisionados, representa um fator de risco significativo para o desenvolvimento de transtornos mentais, exigindo estratégias de conscientização, prevenção e acompanhamento por parte de profissionais da saúde, educadores e familiares. O artigo reafirma a importância de um debate científico e ético sobre o tema, que considere tanto os potenciais terapêuticos quanto os efeitos adversos da substância, sempre com o objetivo de proteger a saúde mental da população.
Referência:
HENRIQUES, Anna Laura da Conceição Ribeiro et al. Relação do uso da cannabis com o desenvolvimento de transtornos mentais: revisão bibliográfica. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 11, p. 89016–89033, nov. 2020.