A Relação Entre Transtorno Bipolar e Dependência Química: Compreensão e Cuidados

24/04/2025

A Relação Entre Transtorno Bipolar e Dependência Química: Compreensão e Cuidados

Por Raique Almeida

            A relação entre o transtorno afetivo bipolar e a dependência química é um tema importante e, muitas vezes, negligenciado. Muitas pessoas diagnosticadas com bipolaridade acabam desenvolvendo algum tipo de dependência química, e entender por que isso acontece pode ser essencial para buscar o tratamento adequado e oferecer o suporte necessário.

O transtorno afetivo bipolar é caracterizado por oscilações intensas de humor, com episódios de depressão profunda alternando com fases de euforia, chamadas de mania. Na fase depressiva, o indivíduo se sente desanimado, sem energia, perde o interesse por atividades que antes eram prazerosas, e frequentemente vivencia sentimentos de tristeza intensa, angústia e, em casos mais graves, pensamentos suicidas. É comum que as pessoas busquem ajuda médica durante essa fase, já que o sofrimento se torna evidente. No entanto, muitos não relatam os episódios de mania, o que pode levar a diagnósticos imprecisos ou incompletos.

Quando a pessoa entra na fase maníaca, o quadro muda completamente. O humor se eleva de forma acentuada, a autoestima se intensifica, e surge uma sensação de empoderamento, como se tudo fosse possível. Nessa fase, é comum que o indivíduo passe a se comportar de forma impulsiva, assumindo riscos, se envolvendo em atividades intensas ou perigosas, e até mesmo experimentando substâncias como álcool e outras drogas. O contato com novos ambientes e pessoas, aliado à sensação de invulnerabilidade, pode levar ao uso de substâncias como ecstasy, álcool ou cocaína esta última, por ser um potente estimulante do sistema nervoso central, intensifica ainda mais os sintomas da mania.

Contudo, o uso de substâncias não se limita à fase maníaca. Muitas pessoas também recorrem às drogas durante os episódios depressivos, buscando uma forma de aliviar o sofrimento emocional. Quando não encontram uma saída saudável como a prática de exercícios físicos, apoio emocional ou terapia podem acabar recorrendo ao uso de álcool ou drogas ilícitas como uma válvula de escape. O grande problema é que algumas dessas substâncias, como a cocaína, causam uma sensação imediata de prazer e bem-estar, o que aumenta significativamente o risco de dependência. O uso inicial pode parecer uma solução, mas rapidamente se transforma em um ciclo destrutivo: com o tempo, são necessárias doses cada vez maiores para alcançar o mesmo efeito, o que agrava ainda mais o quadro clínico.

É importante deixar claro que nem todas as pessoas com transtorno bipolar vão desenvolver dependência química. A associação entre essas duas condições é possível, mas não inevitável. Cada caso é único, e generalizações são perigosas e injustas.

Por outro lado, há também situações em que o processo ocorre de forma inversa: o indivíduo já apresenta dependência química e começa a manifestar alterações de humor tão intensas especialmente sob o efeito da substância ou durante a abstinência que familiares e até profissionais de saúde passam a suspeitar de um transtorno bipolar. De fato, algumas drogas, como o crack e a cocaína, provocam mudanças bruscas de humor, comportamento agressivo ou agitado, e até estados de euforia, o que pode confundir o diagnóstico. Nessas situações, é comum que se imagine que a pessoa tenha, além da dependência química, um transtorno psiquiátrico associado o que nem sempre é verdade.

Diante de tantas nuances, a única forma segura de obter um diagnóstico correto é por meio da avaliação de um profissional especializado. Em casos de dúvida, o ideal é buscar o auxílio de um psiquiatra, que poderá realizar uma investigação clínica detalhada e prescrever o tratamento mais adequado. Além disso, o acompanhamento psicológico é fundamental, já que o psicólogo atua diretamente nas questões emocionais, nos padrões de comportamento, nos traumas e na construção de novos hábitos.

A caminhada entre os polos emocionais da bipolaridade pode ser extremamente desafiadora. Quando associada à dependência química, esse desafio se torna ainda mais delicado, exigindo cuidado, empatia e, acima de tudo, orientação profissional. Ninguém precisa enfrentar isso sozinho a busca por ajuda pode ser o primeiro passo para uma vida mais equilibrada e saudável.

Referências:

Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas (NIDA). Comorbidade: transtornos por uso de substâncias e outras doenças mentais. 2020.

Martins, Silvia S.; Gorelick, David A. Abuso e dependência de substâncias em pessoas com diagnóstico recente de transtorno bipolar nos Estados Unidos.

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