Yoga como Estratégia Complementar no Fortalecimento da Saúde Mental
05/09/2025

Por Raique Almeida
A saúde mental tem se consolidado como um dos maiores desafios da contemporaneidade, em razão do aumento dos casos de ansiedade, depressão e transtornos relacionados ao estresse. O modelo biomédico tradicional, embora necessário, mostra-se insuficiente quando considerado isoladamente, demandando a incorporação de práticas complementares que ampliem as possibilidades de cuidado integral. Nesse contexto, o yoga surge como estratégia de promoção da saúde mental, integrando corpo, respiração e consciência de modo a favorecer a autorregulação emocional e a melhoria da qualidade de vida (SILVA; TAVARES, 2019).
O yoga, enquanto prática milenar originada na Índia, fundamenta-se na articulação entre posturas físicas (ásanas), exercícios respiratórios (pranayamas) e técnicas de meditação (dhyana). Estudos recentes apontam sua eficácia como intervenção complementar em casos de transtornos de humor, estresse e ansiedade (CUSTÓDIO; OLIVEIRA; RODRIGUES, 2020). Essa contribuição alinha-se à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), instituída pelo Ministério da Saúde em 2006, que reconhece o yoga como prática terapêutica voltada ao fortalecimento da integralidade do cuidado (BRASIL, 2006).
Sob uma perspectiva foucaultiana, pode-se compreender o yoga também como uma tecnologia de si, capaz de produzir modos de subjetivação que escapam à lógica medicalizante e mercantilizada da saúde contemporânea (FOUCAULT, 2008). Ao contrário de práticas centradas apenas na medicalização do sofrimento, o yoga oferece ao sujeito a possibilidade de tornar-se agente ativo de seu processo de cuidado, promovendo a autonomia e a reconexão com o corpo e a dimensão espiritual (BOFF, 2001). Contudo, a inserção do yoga no campo da saúde mental não deve ser compreendida como substitutiva ao tratamento convencional, mas sim como recurso complementar. Sua prática pode contribuir para a redução da sintomatologia de transtornos mentais, para o fortalecimento da resiliência psicológica e para a criação de espaços de acolhimento e autocuidado (SILVA; TAVARES, 2019). Além disso, estudos clínicos indicam impactos positivos na regulação do sistema nervoso autônomo e na diminuição dos níveis de cortisol, hormônio associado ao estresse (CUSTÓDIO; OLIVEIRA; RODRIGUES, 2020).
Assim, ao ser reconhecido como prática integrativa, o yoga potencializa o fortalecimento da saúde mental por meio de uma abordagem holística, que considera as dimensões físicas, emocionais e espirituais da existência. A valorização de tais práticas representa um avanço na construção de modelos de cuidado mais inclusivos e humanizados, nos quais a saúde mental é compreendida não apenas como ausência de doença, mas como possibilidade de viver com equilíbrio e dignidade.
Referências
BOFF, Leonardo. Espiritualidade: um caminho de transformação. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
CUSTÓDIO, Tarcísio A.; OLIVEIRA, Luciana F.; RODRIGUES, Marina C. Yoga e saúde mental: revisão sistemática de ensaios clínicos. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 42, n. 3, p. 320-328, 2020.
FOUCAULT, Michel. O nascimento da biopolítica: curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008.
SILVA, Renata P.; TAVARES, Maria C. Yoga como prática integrativa e complementar em saúde mental. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v. 23, e180153, 2019.