Estratégias de Prevenção à Recaída no Uso de Drogas: Caminhos para a Autonomia e a Saúde Integral

07/08/2025

Estratégias de Prevenção à Recaída no Uso de Drogas: Caminhos para a Autonomia e a Saúde Integral

Por Raique Almeida

 

            A recaída no uso de substâncias psicoativas é um dos maiores desafios enfrentados no processo de recuperação de pessoas com transtornos relacionados ao uso de drogas. Apesar de frequente, a recaída não deve ser vista como um fracasso, mas como parte do percurso de superação da dependência, que exige um acompanhamento contínuo e estratégias bem delineadas de prevenção e cuidado.

            De acordo com Marlatt e Gordon (1985), pioneiros na abordagem da prevenção da recaída, é fundamental compreender que a recaída é um processo, não um evento isolado. Para tanto, é necessário identificar e lidar com situações de alto risco, como estresse, conflitos interpessoais, ambientes que remetem ao uso ou sentimentos negativos como culpa, tristeza e ansiedade.

            Uma das principais estratégias de prevenção é a psicoeducação, que consiste em informar a pessoa sobre os efeitos das drogas, os mecanismos da dependência e as possibilidades de enfrentamento. A conscientização sobre os próprios gatilhos emocionais e comportamentais aumenta a percepção de risco e fortalece o autocontrole (DI CLEMENTE et al., 1991).

            Além disso, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem mostrado resultados eficazes na prevenção de recaídas, ao ajudar os indivíduos a modificarem padrões de pensamento disfuncionais e a desenvolverem habilidades sociais e emocionais, como assertividade, resolução de problemas e regulação do humor (Beck et al., 1993).

            Outro fator central é o suporte social. Ter uma rede de apoio — seja por meio da família, de grupos de mútua ajuda como os Narcóticos Anônimos (NA) ou de profissionais da saúde, é essencial para manter a motivação e lidar com os momentos críticos. Vygotsky (1991) destaca que a mediação social tem papel fundamental na constituição da subjetividade e, nesse contexto, a troca com outros que compartilham do mesmo desafio pode reforçar a esperança e o sentimento de pertencimento.

            Por fim, práticas como a espiritualidade, a atividade física regular, o cuidado com o sono e a alimentação também se configuram como formas complementares de evitar recaídas, promovendo o equilíbrio físico e emocional, conforme apontam estudos em saúde integral (WHO, 2014).

            Em síntese, prevenir recaídas demanda uma abordagem multifatorial, que combine estratégias clínicas, educacionais, sociais e culturais. É necessário compreender a dependência não apenas como uma questão individual, mas como um fenômeno que envolve subjetividades, relações e contextos sociais. A superação do uso problemático de drogas exige tempo, acolhimento e, sobretudo, a reconstrução de projetos de vida com dignidade.

 

Referências

Beck, A. T., Wright, F. D., Newman, C. F., & Liese, B. S. (1993). Cognitive Therapy of Substance Abuse. New York: Guilford Press.

DiClemente, C. C., Prochaska, J. O., & Fairhurst, S. K. (1991). The process of smoking cessation: An analysis of precontemplation, contemplation, and preparation stages of change. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 59(2), 295-304.

Marlatt, G. A., & Gordon, J. R. (1985). Relapse Prevention: Maintenance Strategies in the Treatment of Addictive Behaviors. New York: Guilford Press.

Vygotsky, L. S. (1991). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.

World Health Organization (WHO). (2014). Health in All Policies: Framework for Country Action. Geneva: WHO.

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