A Importância do Tratamento Medicamentoso na Dependência Química

24/05/2025

A Importância do Tratamento Medicamentoso na Dependência Química

Por Raique Almeida

            Topiramato, naltrexona e baclofeno são exemplos de medicamentos utilizados no tratamento da dependência química. A medicação exerce um papel fundamental como auxiliar no processo de interrupção do uso de substâncias psicoativas. O presente texto tem como objetivo abordar a importância do tratamento medicamentoso no contexto da dependência química.

A dependência química é uma condição crônica e sem cura definitiva. No entanto, é importante destacar que há tratamento, inclusive por meio de medicamentos, tal como ocorre com outras doenças. Muitos indivíduos acreditam que a única forma eficaz de tratar a dependência seja por meio da internação. Embora existam casos que realmente demandem esse tipo de intervenção, especialmente quando o indivíduo representa risco para si ou para terceiros, o tratamento pode ser realizado em regime ambulatorial, com acompanhamento psicológico e uso de medicamentos prescritos.

Uma dúvida frequente entre os pacientes e familiares diz respeito à utilidade da medicação, especialmente pelo fato de não promover a cura. Contudo, o tratamento da dependência química possui dois pilares essenciais o primeiro consiste na superação da negação da doença por parte do indivíduo, e o segundo diz respeito à manutenção da abstinência, evitando recaídas. A medicação, portanto, não tem o propósito de interromper diretamente o uso da substância, sendo está uma decisão pessoal e voluntária do indivíduo. No entanto, ela contribui significativamente para o enfrentamento dos sintomas da abstinência, minimizando o sofrimento decorrente da interrupção do uso.

Cabe ressaltar que os medicamentos não eliminam completamente os sintomas, e sim os atenuam. Muitos pacientes iniciam o tratamento com expectativas irreais, acreditando que não sentirão nenhum desconforto. Além disso, a eficácia da medicação está diretamente relacionada à adesão correta ao tratamento, conforme prescrição médica. Alguns pacientes interrompem o uso do medicamento ao decidirem, por exemplo, consumir bebidas alcoólicas, e outros fazem uso concomitante de substâncias psicoativas durante o tratamento. Em ambos os casos, a eficácia do medicamento é comprometida.

A adesão ao tratamento, tanto medicamentoso quanto psicoterapêutico, representa um desafio para muitas pessoas com dependência química. Isso ocorre, em parte, pelo mecanismo de defesa da negação, que impede o reconhecimento da doença e o consequente engajamento terapêutico. Além disso, fatores como efeitos colaterais, receio de dependência medicamentosa, medo de ganho de peso e crenças equivocadas a respeito dos fármacos contribuem para o abandono do tratamento. A ausência de tratamento medicamentoso adequado aumenta significativamente a chance de recaídas.

É importante destacar que, em grande parte dos casos, a dependência química está associada a outros transtornos psiquiátricos, como transtornos de ansiedade e depressão. A coexistência de sintomas psiquiátricos e os sintomas de abstinência tornam ainda mais difícil o processo de interrupção do uso de drogas. O tratamento medicamentoso, nesse contexto, atua de forma a reduzir tanto os sintomas da abstinência quanto os sintomas de natureza emocional ou comportamental, como a ansiedade.

Diversos medicamentos são utilizados no tratamento da dependência química, a depender da substância envolvida. O topiramato, por exemplo, é indicado no tratamento da dependência de álcool, cocaína e tabaco. A naltrexona, por sua vez, é amplamente utilizada no manejo da síndrome de abstinência alcoólica, sendo eficaz na redução da possibilidade de recaída, desde que usada corretamente e pelo tempo necessário. Trata-se de um medicamento disponibilizado gratuitamente pela rede pública de saúde. O dissulfiram também é indicado no tratamento da dependência alcoólica, mas sua administração exige que o paciente esteja totalmente abstinente de álcool, uma vez que a combinação pode gerar efeitos adversos graves, inclusive risco de morte.

No tratamento da dependência de maconha, podem ser utilizados medicamentos como fluoxetina e buspirona, especialmente em casos de ansiedade ou depressão. Pacientes que apresentam síndrome amotivacional ou sintomas psicóticos induzidos pela maconha também podem ser tratados com medicação específica. O uso de antidepressivos contribui para a redução dos sintomas depressivos; os ansiolíticos auxiliam no manejo da ansiedade; e os antipsicóticos ajudam a controlar tremores e prevenir surtos psicóticos.

Para o tratamento da dependência de cocaína, o topiramato é utilizado com o objetivo de reduzir a fissura. A gabapentina tem se mostrado eficaz nesse contexto, assim como a nefazodona, também empregada para atenuar o desejo pelo uso da substância.

Apesar da variedade de opções terapêuticas disponíveis, é fundamental ressaltar que cada caso deve ser avaliado individualmente por um profissional médico. A automedicação é desaconselhada e perigosa, uma vez que os medicamentos citados possuem efeitos colaterais e interações específicas.

Conclui-se, portanto, que o tratamento medicamentoso, aliado à psicoterapia, representa um recurso valioso na abordagem da dependência química. O uso responsável e supervisionado da medicação contribui para a redução dos sintomas de abstinência, minimiza o risco de recaídas e proporciona melhores condições para o enfrentamento da doença. O acesso gratuito a esse tratamento na rede pública de saúde torna possível que um número maior de pessoas receba acompanhamento adequado. É essencial que o paciente siga rigorosamente a prescrição médica, compreenda a importância da adesão ao tratamento e se comprometa com o processo de recuperação.

Referências:

ANDRADE, A. G. de et al. O tratamento da dependência de substâncias psicoativas: aspectos clínicos e farmacológicos. São Paulo: Manole, 2009.

DUARTE, P. C. A. V. Neurobiologia da dependência química: implicações para o tratamento. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 33, supl. 1, p. S18–S24, 2011.

LARANJEIRA, R.; FLECK, M. P. A. A importância da farmacoterapia no tratamento da dependência de substâncias. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 25, supl. I, p. 49-54, 2003.

SILVEIRA, D. X.; MOREIRA, F. G. Farmacoterapia da dependência química. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 27, n. 1, p. 36-45, 2000.

 

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