Abuso e dependência da maconha
29/05/2025

Por Raique Almeida
O artigo tem como objetivo apresentar um panorama técnico e científico sobre os efeitos do uso da maconha, suas implicações clínicas e sociais, bem como propor diretrizes de abordagem terapêutica, com base na medicina baseada em evidências. O uso da maconha, especialmente entre adolescentes e adultos jovens, vem aumentando no Brasil e em outros países, o que motivou os autores a investigar com profundidade seus impactos à saúde individual e coletiva.
O texto enfatiza que, embora a maconha seja frequentemente vista como uma droga "leve", seu uso regular pode levar ao desenvolvimento da dependência. Estudos citados pelos autores indicam que cerca de 10% dos usuários se tornam dependentes, e essa taxa sobe para 17% entre aqueles que iniciam o consumo ainda na adolescência. Esses dados são relevantes quando comparados aos índices de dependência de outras substâncias, como álcool (15%), tabaco (32%) e opiáceos (23%). A maconha, portanto, não pode ser considerada inofensiva, principalmente quando seu uso começa precocemente.
O artigo descreve que os efeitos negativos da maconha afetam diretamente o funcionamento cerebral, especialmente em adolescentes, cuja estrutura neurológica ainda está em desenvolvimento. Alterações cognitivas, como déficit de atenção, dificuldade de concentração, prejuízo na memória de curto prazo e redução do rendimento escolar são comuns entre usuários frequentes. A síndrome de abstinência da maconha, reconhecida pelo DSM-5, é caracterizada por sintomas como irritabilidade, insônia, ansiedade, perda de apetite, inquietação e até depressão leve. Tais manifestações clínicas confirmam a existência de um padrão de uso problemático e crônico, que demanda acompanhamento especializado.
Os autores também chamam atenção para a relação entre o uso prolongado da maconha e o desencadeamento de transtornos psiquiátricos. Existe uma associação significativa entre o consumo habitual e o desenvolvimento de psicose, esquizofrenia e outros distúrbios psicóticos, especialmente em pessoas com predisposição genética. Ainda que nem todos os usuários desenvolvam esses quadros, o risco é substancial e merece atenção das autoridades de saúde pública e dos profissionais clínicos.
O tratamento da dependência da maconha deve ser pautado por abordagens psicoterapêuticas estruturadas, sendo a terapia cognitivo-comportamental uma das mais indicadas. Essa modalidade terapêutica ajuda o paciente a identificar padrões disfuncionais de pensamento e comportamento relacionados ao uso da droga. Em alguns casos, é necessário o uso de medicações para aliviar os sintomas de abstinência e comorbidades associadas, como depressão ou ansiedade. O envolvimento da família e o suporte psicossocial são considerados essenciais no processo de recuperação.
Por fim, o artigo reforça a importância das ações preventivas como forma de enfrentamento do problema. Políticas públicas eficazes, programas educativos nas escolas e campanhas de conscientização são instrumentos fundamentais para reduzir o uso precoce e abusivo da maconha. A orientação adequada e o acesso a informações confiáveis podem contribuir para a formação de uma consciência crítica nos jovens, ajudando a evitar o início do consumo e suas consequências.
Referência:
RIBEIRO, Marcelo et al. Abuso e dependência da maconha. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 51, n. 5, p. 247-249, 2005.