A Mulher no Contexto das Drogas: Representações Sociais de adictas em Tratamento
01/05/2025

Por Katruccy Tenório Medeiros, Silvana Carneiro Maciel e Patrícia Fonseca de Sousa
O artigo apresenta uma análise profunda sobre como mulheres em situação de dependência química são socialmente representadas, especialmente no contexto de tratamento em comunidades terapêuticas e clínicas de reabilitação. A pesquisa, de abordagem qualitativa, foi conduzida com 45 mulheres dos estados da Paraíba e Pernambuco, utilizando entrevistas semiestruturadas que foram analisadas com o auxílio do software IRAMUTEQ. A partir dessas análises, emergem representações que associam essas mulheres à imagem de indivíduos perigosos, sem controle, e em constante transgressão das normas sociais, sobretudo aquelas relacionadas ao papel tradicionalmente atribuído ao feminino.
Essas representações acabam por reforçar o estigma em torno da mulher da mulher adicta, dificultando sua reinserção social e afetando profundamente sua autoestima e identidade. O estudo mostra que a dependência química feminina historicamente foi ignorada ou invisibilizada, sob a falsa ideia de que as mulheres estavam à margem desse tipo de problema. Com o tempo, no entanto, mudanças nos papéis sociais, bem como a influência de discursos midiáticos que associam o consumo de drogas a status, beleza e ascensão social, passaram a contribuir para o aumento do uso entre mulheres. Ainda assim, quando uma mulher faz uso de substâncias, é geralmente julgada com maior severidade do que os homens, sendo vista como alguém que falhou em sua função de mãe, esposa ou cuidadora.
O artigo chama atenção para o fato de que essas representações sociais não apenas marginalizam as mulheres, mas também impactam diretamente o modo como elas vivenciam o tratamento. Muitas vezes, internalizam essas visões negativas, o que pode gerar sentimento de culpa, vergonha e isolamento. Diante disso, as autoras defendem a importância de se pensar em políticas públicas mais sensíveis às questões de gênero, que acolham as especificidades da mulher em situação de dependência química e que rompam com o viés punitivo ainda presente em muitos espaços de acolhimento. Dessa forma, seria possível promover uma abordagem mais humanizada, que valorize a escuta, a empatia e o cuidado integral.
Em síntese, o estudo contribui de maneira significativa para o entendimento das barreiras sociais que mulheres adictas enfrentam durante o processo de tratamento. Ao evidenciar como os estigmas de gênero operam na manutenção da exclusão, ele propõe uma necessária revisão nas práticas institucionais e nas percepções coletivas, com o objetivo de garantir a essas mulheres um caminho mais justo e digno em sua jornada de recuperação.