O contexto do uso de drogas entre travestis profissionais do sexo
01/05/2025

Por Rita Martins Godoy Rocha, Débora Letícia Pereira e Thaísa Magna Dias
O artigo apresenta uma análise profunda sobre as vivências de travestis que exercem a prostituição e utilizam substâncias psicoativas, tendo como campo de estudo a cidade de Uberlândia, Minas Gerais. A pesquisa parte da compreensão de que o uso de drogas por essa população está diretamente relacionado a um contexto mais amplo de exclusão social, discriminação de gênero, violência e vulnerabilidade. Através da análise de 59 prontuários médicos de travestis atendidas em um ambulatório especializado e de observações realizadas em campo, o estudo revela um padrão significativo de consumo de álcool e outras drogas. Segundo os dados, cerca de 85% das entrevistadas relataram o uso de bebidas alcoólicas, sendo que quase metade fazia uso diário. Além disso, substâncias como cigarro, maconha, cocaína e crack foram amplamente mencionadas.
É importante destacar que, embora o uso de drogas seja frequente, muitas dessas mulheres não se reconhecem como dependentes químicas. Para elas, o consumo de substâncias está muitas vezes ligado à necessidade de enfrentar situações de estresse, insegurança e exclusão vivenciadas no cotidiano da prostituição. As drogas funcionam, nesse sentido, como uma forma de lidar com a dor, de se proteger emocionalmente ou mesmo de integrar determinados círculos sociais dentro da própria lógica da prostituição. O artigo também discute como essas experiências são atravessadas pela violência estrutural, pela evasão escolar e pela precariedade no acesso a direitos fundamentais, como saúde, moradia e trabalho formal.
A principal contribuição do estudo está em evidenciar que o uso de drogas entre travestis profissionais do sexo não pode ser visto de forma isolada, como uma simples questão de escolha individual ou de comportamento desviante. Pelo contrário, trata-se de um fenômeno profundamente enraizado nas desigualdades sociais e nas dinâmicas de exclusão que marcam a vida dessas pessoas. Nesse sentido, os autores defendem a necessidade de políticas públicas que adotem uma perspectiva interseccional e humanizada, que considerem as particularidades das identidades de gênero dissidentes e promovam estratégias de cuidado baseadas na escuta, no acolhimento e na redução de danos. Assim, o estudo oferece uma importante reflexão sobre como as políticas de saúde e assistência social podem e devem ser repensadas para incluir com dignidade e respeito essa população historicamente marginalizada.