Dependência de drogas e psicologia social: um estudo sobre o sentido das oficinas terapêuticas
29/04/2025

Por Aluísio Ferreira de Lima
O artigo apresenta uma investigação sobre como oficinas terapêuticas, especificamente de teatro, podem contribuir para a transformação identitária de pessoas em tratamento por dependência química. A pesquisa, de caráter qualitativo, foi realizada com uma participante atendida em um ambulatório de tratamento da dependência química no município de Diadema, São Paulo. Como base teórica, o autor utilizou a teoria da identidade de Antonio da Costa Ciampa, que entende a identidade como um processo em constante transformação, influenciado pelas relações sociais e culturais.
O estudo busca romper com a visão tradicional da dependência química centrada em aspectos biomédicos e instrumentais, propondo uma compreensão mais ampla que considera o contexto social em que o sujeito está inserido. Nesse sentido, aponta que fatores como exclusão social, estigmatização e conflitos entre valores tradicionais e modernos influenciam profundamente o comportamento e o sofrimento dos adictos. O uso de substâncias psicoativas, portanto, é compreendido também como uma resposta a essas pressões sociais, e não apenas como um problema clínico.
Por meio da história de vida da participante, identificada como “Lou-Lou”, o autor mostra como a oficina de teatro possibilitou a reconstrução de sua identidade, antes marcada por experiências de exclusão e dor. A encenação de personagens permitiu que ela se distanciasse das marcas estigmatizantes associadas à dependência, ensaiando novas formas de ser e de se relacionar com o mundo. O teatro se apresenta, assim, como um espaço de experimentação identitária, onde a participante pôde ser reconhecida não apenas como “usuária”, mas como alguém dotado de voz, criatividade e potência.
A oficina se configurou como uma ferramenta de emancipação, promovendo o agir comunicativo e o reconhecimento intersubjetivo, elementos fundamentais para a transformação da identidade. A construção de uma identidade pós-convencional, mais autônoma e menos atrelada aos estigmas sociais, tornou-se possível dentro desse espaço terapêutico. O artigo conclui que as oficinas de teatro não apenas colaboram para a redução do sofrimento psíquico, mas também são potentes instrumentos de transformação social e subjetiva. Nesse sentido, o autor defende que políticas públicas voltadas ao tratamento da dependência química devem valorizar estratégias que promovam a escuta, a expressão e o reconhecimento da história de vida dos sujeitos, indo além da lógica do controle e da medicalização.