Drogas, violência e aspectos emocionais em apenados
26/04/2025

Por Gislaine Pereira Tavares, Morgana Scheffer e Rosa Maria Martins de Almeida
O artigo investiga a complexa relação entre o uso de substâncias psicoativas, a manifestação de comportamentos violentos e os aspectos emocionais em homens privados de liberdade. Publicado na revista Psicologia: Reflexão e Crítica em 2012, o estudo se propõe a analisar como essas variáveis se articulam na realidade carcerária, contribuindo para o aprofundamento do entendimento sobre as necessidades psicológicas dessa população.
A pesquisa foi realizada com 60 homens em regime de privação de liberdade, com média de idade de 27,88 anos e no mínimo quatro meses de reclusão. Para a coleta de dados, foram utilizados instrumentos psicométricos consagrados, como o Inventário de Depressão de Beck (BDI), o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), o Índice de Expressão da Raiva Estado-Traço (STAXI) e o Mini International Neuropsychiatric Interview Plus (MINI Plus). A escolha dessas ferramentas possibilitou uma avaliação detalhada dos níveis de depressão, ansiedade, agressividade e abuso/dependência de substâncias entre os participantes, permitindo o mapeamento das características emocionais e comportamentais dos apenados.
Os resultados revelaram que, apesar do contexto de violência associado ao encarceramento, os participantes apresentaram níveis baixos de agressividade e sintomas mínimos de depressão e ansiedade. No entanto, constatou-se um elevado índice de uso abusivo de álcool e outras drogas entre os apenados. Essa constatação chama atenção para o papel central do uso de substâncias psicoativas tanto na gênese quanto na manutenção de comportamentos criminosos. Além disso, foi verificada uma associação significativa entre o uso de drogas, sintomas depressivos e comportamentos agressivos, sugerindo que o consumo de substâncias pode atuar como um fator de vulnerabilização emocional, aumentando a probabilidade de atos violentos.
O estudo também evidenciou que a maioria dos crimes cometidos pelos apenados estava relacionada a roubos e que uma parcela considerável deles possuía histórico de reincidência. Isso aponta para a necessidade de intervenções mais eficazes que rompam o ciclo entre uso de drogas, violência e reclusão. A análise sugere que o sistema prisional, ao negligenciar o cuidado com os aspectos emocionais e a dependência química dos indivíduos, acaba por perpetuar a dinâmica da criminalidade.
Em suas considerações finais, as autoras reforçam a importância de políticas públicas que integrem o tratamento da dependência química ao suporte psicológico no ambiente carcerário. A reabilitação eficaz dos apenados exige uma abordagem que reconheça e intervenha sobre os fatores emocionais que contribuem para a criminalidade, além do enfrentamento do uso de substâncias. O artigo defende que programas de tratamento direcionados ao abuso de drogas, aliados a ações de saúde mental, são fundamentais para reduzir tanto a violência dentro dos presídios quanto a reincidência após a soltura. O trabalho de Tavares, Scheffer e Almeida, portanto, ilumina a necessidade de uma nova perspectiva sobre a reabilitação prisional, centrada não apenas no controle, mas também na recuperação e reintegração social dos indivíduos.