Filhos de dependentes quÃmicos com fatores de risco biopsicossociais: necessitam de um olhar especia
07/06/2025

Por Raique Almeida
A dependência química exerce efeitos profundos que se estendem a todos os membros familiares, particularmente aos filhos dos adictos, que apresentam maior vulnerabilidade a diversos problemas biopsicossociais quando comparados a seus pares?nesse contexto investigaram o perfil de crianças, adolescentes e familiares atendidos em um serviço de prevenção seletiva para filhos de adictos, situado na periferia de São Paulo.
O estudo utilizou delineamento transversal e contou com 162 participantes: 63 familiares, 54 crianças e 45 adolescentes. Foram aplicados instrumentos que abarcaram dados sociodemográficos, o Procedimento de Desenhos de Família com critérios de estresse psicossocial. A maior parte das famílias estava enquadrada na classe D (67%), e em 67% dos casos o pai era o adicto, com preferência pelo álcool (75%). Entre os cônjuges não adictos, 59?% apresentaram risco para transtornos mentais.
Em relação ao perfil infantil, as crianças revelaram sinais de timidez, sentimento de inferioridade, depressão, conflito familiar, carência afetiva e, de forma paradoxal, bom nível de energia, sugerindo certo equilíbrio emocional. Já os adolescentes apresentaram índices elevados de dificuldades em domínios como transtornos psiquiátricos, sociabilidade, dinâmica familiar e lazer/recreação, conforme apontado.
Com base nos dados obtidos, os autores defendem a necessidade de serviços especializados de prevenção seletiva que ofereçam suporte multifacetado psicológico, social, recreacional e médico tanto para crianças e adolescentes quanto para suas famílias. O projeto CUIDA, idealizado pela UNIAD/UNIFESP e implementado em comunidade vulnerável, busca justamente fomentar resiliência e reduzir fatores de risco por meio de intervenção precoce.
Destaca-se que, embora os filhos de adictos estejam mais expostos a transtornos como depressão, ansiedade, fobia social, transtorno de conduta e tendência ao uso de substâncias psicoativas com risco de alcoolismo quatro vezes maior entre filhos de alcoólatras muitos apresentam adaptação significativa, o que reforça a importância de intervenções terapêuticas preventivas voltadas para esse grupo.
Em síntese, o estudo evidencia que os filhos de adictos compõem um grupo de risco ordeiro para o desenvolvimento de problemas psiquiátricos e psicossociais. A oferta de atendimento especializado e multidisciplinar, por meio de prevenção seletiva, mostra?se essencial para mitigar tais vulnerabilidades e promover saúde e bem?estar a essas crianças e adolescentes, reforçando o papel dos serviços públicos e comunitários na promoção de estratégias de suporte familiar e social.
Referência:
FIGLIE, N. B. et al. Filhos de dependentes químicos com fatores de risco bio?psicossociais: necessitam de um olhar especial? Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v.?31, n.?2, 2004.