O Décimo Primeiro Passo em Narcóticos Anônimos

03/09/2025

O Décimo Primeiro Passo em Narcóticos Anônimos

Por Raique Almeida

            O Décimo Primeiro Passo de Narcóticos Anônimos afirma “Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento da Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade” (NARCÓTICOS ANÔNIMOS, 2008, p. 97). Este passo se configura como uma etapa essencial do processo de recuperação, pois amplia a dimensão espiritual do programa e convida o indivíduo a desenvolver um relacionamento contínuo com uma força superior. Trata-se de um exercício de aprofundamento interior que vai além do simples abandono da substância, sendo um caminho de reconstrução existencial.

            A prática do Décimo Primeiro Passo implica na integração de espiritualidade e autoconhecimento como instrumentos de sustentação da sobriedade. De acordo com Vasconcelos (2019), a espiritualidade constitui um recurso terapêutico que favorece a resiliência e fortalece o enfrentamento de situações adversas. Assim, a prece e a meditação, longe de serem meramente rituais religiosos, funcionam como estratégias que promovem equilíbrio emocional, redução da ansiedade e ampliação da consciência, auxiliando na prevenção da recaída.

            O contato consciente com o “Deus da forma em que O concebíamos” (NARCÓTICOS ANÔNIMOS, 2008, p. 98) respeita a pluralidade de crenças, possibilitando que cada membro encontre sua própria via espiritual. Segundo Boff (2001), a espiritualidade pode ser compreendida como dimensão constitutiva do ser humano, que transcende a materialidade e se manifesta na busca de sentido e de comunhão com o outro e com a vida. Esse aspecto dialoga diretamente com o princípio do passo, pois, ao cultivar a prática espiritual, o adicto fortalece sua autonomia sem romper com a coletividade do grupo de apoio.

            O Décimo Primeiro Passo também evidencia a importância da disciplina cotidiana na recuperação. A meditação, conforme estudos de neurociência, estimula áreas cerebrais relacionadas à atenção e à regulação emocional, contribuindo para uma maior estabilidade mental (DAVIDSON; KASNIAS, 2015). Assim, a prática constante favorece não apenas o campo espiritual, mas também impactos positivos no bem-estar físico e psicológico.

            Por fim, observa-se que este passo representa uma síntese entre humildade e perseverança. O pedido de forças para realizar a vontade de uma potência maior não indica passividade, mas sim a aceitação de que a recuperação não é sustentada apenas pelo esforço individual. Como afirma Rogers (1997), a autenticidade do processo de mudança ocorre quando o indivíduo se abre para experiências transformadoras, reconhecendo sua vulnerabilidade e sua capacidade de crescer.

            Em conclusão, o Décimo Primeiro Passo é um convite para o aprofundamento espiritual, para a prática disciplinada da prece e da meditação, e para o fortalecimento da consciência e da serenidade. Ele não se restringe a um exercício religioso, mas se constitui em um recurso integral para a manutenção da sobriedade, promovendo equilíbrio, esperança e sentido de vida para aqueles em processo de recuperação.

Referências

BOFF, Leonardo. Espiritualidade: um caminho de transformação. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.

DAVIDSON, Richard; KASNIAS, John. The Neuroscience of Meditation. New York: Oxford University Press, 2015.

NARCÓTICOS ANÔNIMOS. Texto Básico. 5. ed. Rio de Janeiro: JUNAAB, 2008.

ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

VASCONCELOS, Eduardo. Saúde mental e espiritualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

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