Jogo patológico e suas consequências para a saúde pública
21/05/2025

Por Raique Almeida
O artigo publicado na Revista de Saúde Pública (2008), oferece uma análise aprofundada sobre o impacto do jogo patológico na saúde pública, especialmente no contexto brasileiro. A partir de uma revisão bibliográfica abrangente, os autores discutem os múltiplos aspectos desse transtorno, caracterizado pela perda de controle sobre o comportamento de jogar, apesar das consequências negativas pessoais, familiares, sociais e econômicas.
A pesquisa foi desenvolvida com base em fontes nacionais e internacionais, utilizando bases de dados como Medline e Lilacs, além de matérias da imprensa leiga. Os autores buscaram evidências sobre a prevalência do jogo patológico, seus custos sociais e econômicos, sua relação com transtornos mentais e os impactos da legalização dos jogos de azar em diferentes países. A literatura aponta que a prevalência de jogadores patológicos tende a ser mais elevada em regiões onde os jogos são legalizados, o que acende um alerta sobre os riscos associados a uma possível expansão da legalização no Brasil.
O jogo patológico acarreta uma série de consequências graves para o indivíduo e para a sociedade. Entre os principais impactos estão o comprometimento da saúde mental, com elevada incidência de depressão, ansiedade e risco de suicídio, além da frequente associação com outros transtornos psiquiátricos, como dependência química. Do ponto de vista social, o transtorno interfere negativamente nos vínculos familiares e nas relações de trabalho, podendo levar à deterioração de redes de apoio e à exclusão social. Há ainda relatos frequentes de comportamentos ilícitos praticados pelos jogadores com o objetivo de sustentar a compulsão, como fraudes, furtos ou apropriação indébita, o que aumenta os custos sociais indiretos do transtorno.
No Brasil, mesmo com a proibição oficial da maioria dos jogos de azar, observa-se um crescimento do número de jogadores com comportamento patológico, o que revela a existência de uma oferta ilegal ou tolerada, além da presença de jogos legalizados, como loterias, apostas esportivas e bingos em algumas modalidades. Essa situação evidencia a necessidade de políticas públicas voltadas para a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento especializado, que atualmente são escassos ou inexistentes no sistema público de saúde.
Os autores alertam que a discussão sobre a legalização dos jogos de azar deve considerar não apenas os possíveis ganhos econômicos, mas, principalmente, os danos sociais e os impactos na saúde da população. A ausência de dados nacionais consistentes sobre o tema dificulta a formulação de estratégias eficazes de enfrentamento. Nesse sentido, o artigo destaca a urgência de mais pesquisas no país para subsidiar decisões legislativas e políticas de saúde baseadas em evidências.
Conclui-se, portanto, que o jogo patológico constitui um grave problema de saúde pública, ainda subestimado no Brasil. Os danos gerados por esse transtorno ultrapassam o sofrimento individual e atingem a sociedade como um todo, exigindo atenção imediata por parte das autoridades públicas, profissionais de saúde e pesquisadores. A criação de programas de prevenção e tratamento, bem como a ampliação do debate sobre a regulamentação dos jogos de azar, são passos fundamentais para o enfrentamento dessa questão complexa e crescente.
Referências:
OLIVEIRA, Maria Paula Magalhães Tavares de; SILVEIRA, Dartiu Xavier da; SILVA, Maria Teresa Araujo. Jogo patológico e suas consequências para a saúde pública. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n. 3, jun. 2008.