A Violência e suas Raízes Sociais

14/05/2025

A Violência e suas Raízes Sociais

Por Raique Almeida

            Ao refletirmos sobre o conceito de violência, é comum relacionarmos esse tema ao contexto do mundo contemporâneo. Nesse sentido, ele está diretamente ligado ao processo de globalização. A globalização promove alterações significativas nas dinâmicas sociais, culturais, econômicas, políticas e jurídicas. A partir dela, passamos a pensar o mundo de maneira interconectada, o que acarreta, entre outras consequências, a intensificação dos fluxos migratórios muitas pessoas se deslocam de cidades pequenas para centros urbanos maiores em busca de melhores oportunidades de trabalho e qualidade de vida.

No entanto, essas cidades que vendem a ideia de prosperidade e ascensão social nem sempre conseguem absorver toda a mão de obra que chega. Como resultado, muitas dessas pessoas acabam enfrentando situações de vulnerabilidade, como o desemprego e a falta de moradia, o que contribui para o aumento da violência.

Essas transformações estruturais alteram profundamente as formas de interação e de relação entre os indivíduos. Por exemplo, uma cidade pequena que recebe uma grande empresa passa a demandar mais trabalhadores. A migração que ocorre em função disso pode desorganizar os vínculos sociais já existentes, dificultando a construção de relações próximas entre os habitantes e provocando tensões sociais. Em cenários de expansão demográfica e habitacional, é comum observarmos mudanças na convivência urbana, podendo haver um aumento da criminalidade e da violência.

Esse aumento contribui para a disseminação da chamada cultura do medo uma percepção de insegurança propagada, muitas vezes, por programas sensacionalistas da mídia. Um exemplo clássico são programas televisivos que exibem continuamente crimes, como os apresentados por José Luiz Datena. Essa constante exposição a conteúdos violentos pode gerar uma sensação exacerbada de perigo, mesmo que a realidade urbana não seja tão ameaçadora quanto se imagina.

A cultura do medo influencia fortemente o imaginário coletivo, construindo uma visão distorcida da realidade. Isso beneficia, por exemplo, empresas de segurança privada, que lucram com o aumento da sensação de insegurança. Dessa forma, é necessário desenvolver uma leitura crítica dos meios de comunicação, questionando os interesses por trás dessas narrativas midiáticas.

Apesar disso, é importante reconhecer que a violência é uma realidade concreta em nosso país e em muitos outros. No entanto, não podemos analisá-la de forma isolada, como se fosse uma característica inata das pessoas. Pelo contrário, devemos considerar os fatores estruturais que levam indivíduos a cometerem crimes, como a falta de acesso a direitos básicos alimentação, educação, saúde, moradia e lazer.

A própria mídia que propaga a cultura do medo também nos vende a ideia de que, para “ser alguém na vida”, é necessário possuir determinados bens materiais como carro, roupas e eletrônicos. Isso acentua a frustração de indivíduos em situação de pobreza, que, diante da falta de condições básicas, veem no crime uma forma de sobreviver ou conquistar uma vida minimamente digna. Assim, a desigualdade social e a marginalização estão diretamente ligadas à criminalidade e ao crescimento da violência.

A violência, portanto, não é uma característica natural das pessoas, mas sim resultado das condições sociais em que estão inseridas. Ela pode se manifestar de diferentes formas. A violência física envolve o uso da força, como agressões corporais ou o uso de objetos como armas. Já a violência simbólica, conceito desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, refere-se a formas de agressão não físicas, mas que causam danos psicológicos e morais. O racismo, por exemplo, é uma forma de violência simbólica, assim como ofensas verbais dentro de relações interpessoais, como quando um parceiro diz à outra pessoa “Você não serve para nada”. Essas ações afetam profundamente a autoestima e o bem-estar emocional da vítima.

Portanto, ao analisarmos o conceito de violência, é essencial considerar tanto suas manifestações físicas quanto simbólicas, compreendendo suas raízes sociais e os interesses que cercam sua representação na mídia.

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Medo líquido. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

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