Cannabis: 12.000 anos de experiências e preconceitos
03/06/2025

Por Raique Almeida
O artigo apresenta uma revisão narrativa sobre a trajetória histórica da Cannabis sativa e os estigmas associados ao seu uso, especialmente no contexto medicinal.
A Cannabis sativa tem sido utilizada pela humanidade desde o período neolítico, há aproximadamente 12 mil anos, inicialmente na Ásia Central. Evidências arqueológicas indicam seu uso como alimento, na confecção de tecidos e como fármaco. Na China antiga, registros como o livro Pen Tsao, atribuído ao imperador Shen Neng por volta de 2700 a.C., descrevem seu emprego no tratamento de dores articulares, cólicas menstruais e distúrbios intestinais. No Egito, o papiro de Ebers, datado de 1550 a.C., menciona a cannabis em diversas formulações medicinais para dores e transtornos emocionais. Na Índia, o Atharvaveda (1200–800 a.C.) classifica a planta como uma das cinco sagradas, presente do deus Shiva, utilizada tanto em rituais religiosos quanto no tratamento de diversas enfermidades.
A pesquisa realizada pelos autores envolveu uma revisão bibliográfica integrativa, com buscas em bases de dados como SciELO, PubMed, Google Scholar, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações e Medline, utilizando termos como "canabidiol", "cannabis", "legislação", "prescrição" e "farmacologia". Foram considerados trabalhos publicados entre 1980 e 2023, nos idiomas português, inglês e espanhol.
O estudo destaca que, apesar do crescente número de publicações científicas sobre o sistema endocanabinoide e seus componentes, como os receptores CB1 e CB2 e os endocanabinoides anandamida e 2-AG, o preconceito e as restrições legais ainda limitam o avanço das pesquisas e a aplicação terapêutica da cannabis. Eventos históricos, como a proibição da planta durante a Guerra Fria e sua associação a substâncias tóxicas, contribuíram para a estigmatização. No Brasil, por exemplo, a cannabis foi equiparada a drogas como a heroína em conferências internacionais, influenciando políticas restritivas.
Os autores concluem que, embora haja um reconhecimento crescente do potencial terapêutico da cannabis, especialmente no tratamento da dor e de doenças neurológicas, é essencial superar os preconceitos históricos e as barreiras legais para que seu uso medicinal seja plenamente explorado. A compreensão aprofundada da história da planta e dos avanços científicos recentes pode contribuir para uma abordagem mais informada e menos estigmatizada em relação à cannabis na medicina contemporânea.
Referência:
PIERRO NETO, Pedro Antonio; PIERRO, Luiz Marcelo Chiarotto; FERNANDES, Sergio Tadeu. Cannabis: 12.000 anos de experiências e preconceitos. Brazilian Journal of Pain, São Paulo, v. 6, supl. 2, 2023.