Crack no Brasil: Exclusão, Vulnerabilidade e Respostas Institucionais

13/07/2025

Crack no Brasil: Exclusão, Vulnerabilidade e Respostas Institucionais

Por Raique Almeida

            O estudo revelou que o perfil dos usuários de crack é composto majoritariamente por jovens adultos, negros ou pardos, com baixa escolaridade, desempregados e, em muitos casos, em situação de rua. Nas capitais brasileiras, quase metade dos usuários encontrava-se sem moradia, e a maioria deles não mantinha vínculo com atividades laborais regulares. Esses dados reforçam que o uso do crack deve ser entendido, acima de tudo, como uma expressão da exclusão social, sendo necessário considerar fatores estruturais como pobreza, racismo e desigualdade no desenvolvimento de políticas públicas eficazes (BRASIL, 2014). A pesquisa também aponta variações importantes entre as regiões do país enquanto na região Sul 52% dos usuários consomem crack, na região Norte esse número cai para 20%, evidenciando que o problema não pode ser tratado como homogêneo, e, sim, de forma diferenciada, conforme os contextos regionais.

            Outro dado relevante refere-se à disposição dos usuários em buscar tratamento. Aproximadamente 80% deles afirmaram desejar algum tipo de cuidado, o que põe em xeque a ênfase em medidas como a internação compulsória, indicando que a ampliação e o fortalecimento das redes de cuidado em liberdade seriam alternativas mais alinhadas aos direitos humanos e às necessidades da população atendida (BRASIL, 2014). No recorte de gênero, a pesquisa trouxe à tona situações de extrema vulnerabilidade entre as mulheres usuárias. Mais de 55% relataram ter recorrido ao sexo ou ao trabalho sexual para obter drogas, e cerca de 40% afirmaram ter sofrido violência sexual no último ano. Esses dados, somados à elevada prevalência de infecções como HIV e hepatite C entre mulheres, apontam para a urgência de políticas públicas específicas e sensíveis ao gênero.

            A pesquisa também avaliou as ações do Plano “Crack, é possível vencer”, identificando que, embora algumas iniciativas estejam bem direcionadas, outras carecem de realinhamento à luz das novas evidências empíricas. Esse processo contínuo de avaliação e reformulação de políticas é essencial para garantir que as respostas do Estado sejam mais eficazes e humanas. Ao expor que o consumo de crack no Brasil está diretamente associado a contextos de exclusão e desigualdade, o estudo reafirma a necessidade de abordagens integradas e sustentadas por princípios de justiça social e saúde pública.

Referência:
BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Pesquisa Nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras? Rio de Janeiro: Icict/Fiocruz, 2014.

Blog

Informações sobre prevenção, tratamento e recuperação da dependência química e alcoolismo

As drogas têm cor?
Drogas

As drogas têm cor?

Este texto analisa como a guerra às drogas está atravessada por desigualdades raciais e sociais, revelando que, embora as substâncias não tenham c

Saiba mais
Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.