Fatores associados ao uso de substâncias psicoativas entre motoristas profissionais de caminhão
20/04/2025

Por Ângela Maria Mendes Abreu, Rafaela Maria Figueiredo da Costa, Rafael Tavares Jomar e Luciana Fernandes Portela
O artigo tem como foco investigar os fatores que influenciam o consumo de substâncias psicoativas entre caminhoneiros no Brasil. Com base em uma pesquisa transversal realizada com 354 motoristas profissionais no estado do Rio de Janeiro, durante o ano de 2016. Os dados foram coletados por meio de entrevistas presenciais, com a aplicação de questionários estruturados que abordaram aspectos sociodemográficos, condições de trabalho e saúde dos participantes.
A análise estatística utilizou o modelo de regressão de Poisson para estimar as razões de prevalência com intervalos de confiança de 95%, permitindo identificar com maior precisão os fatores associados ao uso recente de substâncias psicoativas. Os resultados indicaram que três variáveis se destacaram como significativamente associadas ao consumo dessas substâncias nos três meses anteriores à pesquisa: a baixa renda familiar per capita, a presença de sintomas de insônia e a realização de jornadas de trabalho prolongadas.
Motoristas que viviam com uma renda igual ou inferior a um salário mínimo apresentaram maior prevalência de uso de substâncias, o que sugere que fatores econômicos podem levar esses trabalhadores a recorrerem a substâncias como forma de enfrentamento das dificuldades diárias. Além disso, a insônia foi outro fator relevante: motoristas que relatavam dificuldade para dormir apresentaram mais que o dobro de probabilidade de uso de substâncias psicoativas, revelando uma possível tentativa de compensar o cansaço e manter-se alerta nas longas jornadas. A terceira variável de destaque foi a carga excessiva de trabalho. Caminhoneiros que dirigiam por períodos prolongados sem pausas também estavam significativamente mais propensos ao consumo dessas substâncias.
Esses achados evidenciam um cenário preocupante, em que o uso de substâncias está diretamente relacionado a condições precárias de trabalho, saúde debilitada e dificuldades econômicas. O estudo levanta importantes reflexões sobre a necessidade de políticas públicas que considerem a realidade enfrentada por esses trabalhadores. Melhorar as condições de trabalho, garantir uma remuneração mais justa, promover ações voltadas à saúde mental e ao sono, além de oferecer suporte e acesso a serviços de saúde, são estratégias fundamentais para enfrentar esse problema de forma efetiva.
Os autores ressaltam que os caminhoneiros estão expostos a altos níveis de estresse, isolamento e exigências físicas intensas, o que favorece o consumo de substâncias como tentativa de manter a produtividade e lidar com as dificuldades do dia a dia. No entanto, essa prática traz consequências sérias para a saúde desses trabalhadores e para a segurança nas estradas, agravando ainda mais os riscos inerentes à profissão.
Conclui-se, portanto, que o uso de substâncias psicoativas entre caminhoneiros é multifatorial e envolve aspectos sociais, ocupacionais e de saúde. A compreensão desses fatores é essencial para subsidiar ações intersetoriais e integradas, voltadas não apenas à repressão do uso, mas principalmente à promoção da saúde, prevenção de doenças e à melhoria da qualidade de vida desses profissionais fundamentais para a economia e a logística do país.