Tráfico de drogas: uma opção entre escolhas escassas
22/04/2025

Por Ana Amélia Cypreste Faria e Vanessa de Andrade Barros
O artigo apresenta uma análise crítica sobre o envolvimento de jovens com o tráfico de drogas, partindo da perspectiva das escolhas limitadas e do contexto de vulnerabilidade social. As autoras, vinculadas à Universidade Federal de Minas Gerais, baseiam-se em dados qualitativos e entrevistas para compreender como o tráfico se insere como uma alternativa possível e, por vezes, a única visível diante da falta de oportunidades legítimas de inserção no mercado de trabalho, educação e mobilidade social.
O estudo evidencia que a adesão ao tráfico não deve ser interpretada apenas como uma escolha moral ou criminosa, mas como uma resposta racional dentro de um cenário de profunda desigualdade. Jovens das periferias urbanas, frequentemente expostos à violência, à precariedade de serviços públicos e à estigmatização social, veem no tráfico não apenas uma fonte de renda, mas também uma via de reconhecimento social e pertencimento. A promessa de consumo, poder e respeito aparece como atrativa em um contexto onde o Estado está ausente ou atua principalmente através da repressão policial.
As autoras também criticam a lógica punitivista das políticas públicas, que tratam os envolvidos com o tráfico como inimigos a serem eliminados, sem considerar os aspectos estruturais que os levam a essa atividade. A criminalização seletiva e o encarceramento em massa são apontados como mecanismos que perpetuam a exclusão e aprofundam as desigualdades, sobretudo entre jovens negros e pobres. Além disso, o artigo destaca a importância de uma abordagem intersetorial, que envolva educação, cultura, trabalho e políticas de juventude, como estratégia para romper com o ciclo de marginalização.
Por fim, o texto propõe uma mudança de paradigma na forma como o tráfico de drogas é compreendido. Em vez de reforçar estigmas ou tratar os jovens traficantes como casos isolados, é necessário enxergá-los como sujeitos que fazem escolhas dentro de um campo de possibilidades extremamente restrito. As autoras defendem uma escuta qualificada e políticas públicas comprometidas com a transformação social, de forma a garantir que outras escolhas mais justas, seguras e legítimas se tornem possíveis para essa parcela da população.