A desesperança do jovem e o suicídio como solução

26/05/2025

A desesperança do jovem e o suicídio como solução

Por Raique Almeida

            O artigo aborda de forma crítica e reflexiva a crescente problemática do suicídio entre jovens, analisando as possíveis causas dessa realidade à luz de uma perspectiva interdisciplinar, com destaque para as contribuições da psicologia e das ciências sociais. As autoras partem da constatação de que o suicídio, enquanto fenômeno multifatorial, tem apresentado índices alarmantes entre a população jovem, revelando uma profunda crise de sentido, afetividade e pertencimento nas sociedades contemporâneas. O texto propõe que o aumento desses casos está diretamente relacionado à vivência de desesperança, solidão e desamparo subjetivo, especialmente em contextos marcados por transformações sociais aceleradas, enfraquecimento dos vínculos comunitários e familiares, e uma cultura que valoriza o desempenho e a produtividade em detrimento da subjetividade e do cuidado emocional.

As autoras destacam que, embora o suicídio seja muitas vezes interpretado sob a ótica da patologia individual, como consequência de transtornos mentais, é fundamental ampliar essa leitura para incluir aspectos sociais, culturais e históricos que contribuem para a construção da desesperança juvenil. Nesse sentido, o texto critica abordagens reducionistas e biomédicas que desconsideram o sofrimento psíquico como expressão de um mal-estar social mais amplo. A juventude, entendida como uma fase de transição, experimenta não apenas as mudanças inerentes ao desenvolvimento biológico e psicológico, mas também o impacto de exigências externas que dificultam a construção de um projeto de vida viável e desejável. Os jovens são frequentemente expostos a discursos que impõem padrões de sucesso, beleza e realização pessoal que são inatingíveis para grande parte da população, gerando frustração, sentimentos de inadequação e isolamento.

O artigo também ressalta a importância do contexto familiar e escolar na formação psíquica dos jovens. Muitas vezes, as famílias estão atravessadas por conflitos, ausências e dificuldades de comunicação afetiva, o que compromete a função de suporte emocional. As escolas, por sua vez, muitas vezes se limitam à função instrucional, deixando de lado a escuta e o acolhimento das angústias dos alunos. As autoras enfatizam que a ausência de espaços de escuta qualificada contribui para que os jovens internalizem suas dores e sofrimentos, recorrendo ao suicídio como única saída possível para um sofrimento que não encontra lugar de expressão ou reconhecimento. Nessa lógica, o suicídio aparece como uma tentativa de dar fim ao insuportável, mais do que como um desejo de morte em si.

No decorrer do texto, as autoras também problematizam o papel das políticas públicas voltadas à saúde mental dos jovens. Argumentam que, embora haja avanços em termos de legislação e diretrizes, ainda é evidente a carência de práticas efetivas e de dispositivos que considerem a complexidade do sofrimento juvenil. A lógica da medicalização excessiva, por exemplo, muitas vezes serve para silenciar os sintomas em vez de compreendê-los em sua dimensão subjetiva e social. O texto propõe a necessidade de práticas que articulem diferentes saberes e que se orientem por uma ética do cuidado, da escuta e do acolhimento, especialmente em contextos escolares e comunitários, onde os jovens possam se sentir pertencentes e reconhecidos.

A conclusão do artigo reforça a urgência de se pensar políticas públicas e práticas clínicas que considerem a juventude como uma etapa da vida marcada por desafios, mas também por potências e possibilidades. Para tanto, é necessário investir na construção de laços sociais significativos, no fortalecimento das redes de apoio, e na criação de espaços de convivência e diálogo que permitam aos jovens expressar suas angústias sem medo de julgamento ou exclusão. O suicídio juvenil, ao ser compreendido como um fenômeno complexo e multifatorial, exige respostas igualmente complexas, que passem pela escuta, pelo cuidado e pela responsabilização coletiva em torno da saúde mental das novas gerações.

Referência:

PENSO, Maria Aparecida; SENA, Denise Pereira Alves de. A desesperança do jovem e o suicídio como solução. Sociedade e Estado, Brasília, v. 35, n. 1, p. 111–127, jan./abr. 2020.

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