O Uso de Substâncias Psicoativas e Sua Relação Com o Transtorno de Personalidade Borderline

11/09/2025

O Uso de Substâncias Psicoativas e Sua Relação Com o Transtorno de Personalidade Borderline

Por Raique Almeida

            O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) caracteriza-se por um padrão persistente de instabilidade emocional, impulsividade, relacionamentos interpessoais intensos e comportamento autodestrutivo (APA, 2014). Essas características tornam os indivíduos com TPB mais vulneráveis ao uso problemático de substâncias, uma vez que o consumo de drogas é frequentemente utilizado como estratégia de alívio imediato para regular emoções intensas e dolorosas. Nesse sentido, a relação entre o TPB e a dependência química deve ser compreendida como um fenômeno bidirecional, em que cada condição pode agravar a outra.

            Estudos apontam que pacientes com TPB apresentam taxas significativamente mais altas de uso abusivo de drogas quando comparados à população geral, com prevalências que variam entre 50% e 70% (Zanarini. 2011). Tal associação é explicada pela dificuldade de autorregulação emocional, pela necessidade de lidar com sentimentos de vazio crônico e pela maior propensão a comportamentos impulsivos, incluindo a busca de substâncias psicoativas (Bateman; Fonagy, 2016). Dessa forma, o consumo de drogas, ao mesmo tempo em que proporciona alívio momentâneo, intensifica os sintomas do transtorno, perpetuando um ciclo de sofrimento.

            Outro aspecto relevante é o impacto do uso de drogas sobre a capacidade de adesão ao tratamento psicoterápico e medicamentoso. De acordo com Fidalgo e Oliveira (2019), a presença de comorbidade entre TPB e dependência química aumenta a gravidade do quadro clínico, dificulta a construção da aliança terapêutica e eleva os índices de recaídas. Essa sobreposição de transtornos exige abordagens integradas que considerem tanto a dimensão da saúde mental quanto a da dependência química, promovendo estratégias de cuidado mais eficazes.

            Nesse contexto, a Terapia Comportamental Dialética (DBT), desenvolvida por Marsha Linehan, tem se mostrado eficaz ao trabalhar a regulação emocional, a tolerância ao estresse e a promoção de habilidades sociais em pacientes com TPB (Linehan, 2018). Associada a intervenções específicas para o manejo da dependência química, a DBT possibilita maior redução no uso de substâncias e melhora significativa na qualidade de vida dos indivíduos acometidos. Além disso, estratégias de cuidado integrativo, que incluem suporte familiar, grupos terapêuticos e acompanhamento multiprofissional, são fundamentais para enfrentar os desafios impostos pela comorbidade.

            Portanto, a relação entre o TPB e o uso de drogas evidencia um quadro clínico de elevada complexidade, marcado pela interação de vulnerabilidades emocionais, sociais e biológicas. Reconhecer essas especificidades é fundamental para a formulação de intervenções que transcendam abordagens fragmentadas e que possibilitem uma reabilitação mais consistente e humanizada. O desafio está em oferecer tratamentos que consigam integrar a clínica da personalidade borderline com o manejo da dependência química, de modo a reduzir os riscos, potencializar a adesão terapêutica e promover maior autonomia dos sujeitos em sofrimento.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BATEMAN, A.; FONAGY, P. Tratamento baseado em mentalização para transtornos de personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2016.

FIDALGO, T. M.; OLIVEIRA, L. M. Transtorno de personalidade borderline e dependência química: uma revisão clínica. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 41, n. 3, p. 259-266, 2019.

LINEHAN, M. M. Terapia comportamental dialética: habilidades essenciais. Porto Alegre: Artmed, 2018.

ZANARINI, M. C. et al. The course of substance use disorders in patients with borderline personality disorder and axis II comparison subjects: a 10-year follow-up study. Addictive Behaviors, v. 36, n. 3, p. 273-277, 2011.

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