A educação física no âmbito do tratamento em saúde mental: um esforço coletivo e integrado
14/06/2025

Por Raique Almeida
O artigo apresenta uma análise sobre o papel da educação física como parte integrante dos cuidados em saúde mental, considerando sua potencialidade como prática terapêutica no contexto de reabilitação psicossocial. Os autores propõem uma reflexão crítica acerca da inserção do profissional de educação física nas equipes interdisciplinares de saúde, sobretudo nos serviços substitutivos à lógica manicomial, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
A pesquisa parte da constatação de que, historicamente, a atividade física esteve associada à disciplina do corpo e ao controle de comportamentos, sobretudo no tratamento de pessoas com sofrimento psíquico. No entanto, com o avanço das políticas públicas de saúde mental no Brasil especialmente após a Reforma Psiquiátrica, surge um novo entendimento sobre a importância do cuidado integral e da valorização das experiências subjetivas dos usuários dos serviços. Nesse novo cenário, a educação física passa a ser pensada não apenas como instrumento técnico de intervenção corporal, mas como uma prática que promove autonomia, sociabilidade, expressão e reconstrução de vínculos com a comunidade.
Os autores enfatizam que o trabalho do educador físico nesses espaços precisa ir além da reprodução de atividades esportivas convencionais. É fundamental que esse profissional compreenda o contexto singular de cada sujeito e que suas ações estejam em sintonia com os princípios da atenção psicossocial. Isso implica em uma atuação ética, crítica e comprometida com a escuta, com a construção de vínculos e com a promoção do protagonismo das pessoas. A prática corporal, nesse contexto, ganha um novo significado deixa de ser um fim em si mesma e se transforma em meio de diálogo, cuidado e ressignificação da existência.
Outro ponto central abordado no artigo é a importância do trabalho coletivo e integrado entre os diferentes profissionais que compõem as equipes de saúde mental. A educação física, quando integrada a essa lógica interdisciplinar, amplia o leque de possibilidades terapêuticas, favorecendo a reconstrução da identidade dos sujeitos e contribuindo para a superação do estigma social que frequentemente acompanha o sofrimento psíquico. Nesse sentido, os autores defendem que a presença da educação física nos serviços de saúde mental não deve ser vista como algo acessório, mas como parte fundamental de um projeto terapêutico ampliado, centrado na pessoa e em sua inserção social.
Por fim, o artigo destaca a necessidade de formação específica e continuada dos profissionais de educação física para que estejam preparados para atuar em contextos de saúde mental. Isso envolve não apenas o domínio de técnicas corporais, mas também o conhecimento sobre políticas públicas, direitos humanos, práticas interdisciplinares e escuta sensível. A educação física, portanto, mostra-se como uma ferramenta potente de cuidado e inclusão, desde que exercida de forma crítica, afetiva e comprometida com a transformação das relações sociais e institucionais que atravessam a vida dos sujeitos em sofrimento psíquico.
Referência:
MELO, Lígia Gizely dos Santos Chaves; OLIVEIRA, Kleber Roberto da Silva Gonçalves de; VASCONCELOS-RAPOSO, José. A educação física no âmbito do tratamento em saúde mental: um esforço coletivo e integrado. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 17, n. 3, p. 501-508, jul./set. 2014.