Solidão: Compreensão, Consequências e Estratégias de Enfrentamento
20/05/2025

Por Raique Almeida
A solidão é um sentimento complexo, frequentemente mal compreendido, que pode afetar profundamente o bem-estar emocional e físico de uma pessoa. Trata-se de uma experiência subjetiva que não se limita à ausência de contato social. Muitas vezes, alguém pode estar cercado por outras pessoas seja presencialmente ou através das inúmeras ferramentas de comunicação disponíveis no mundo contemporâneo e, ainda assim, sentir-se profundamente só.
Os seres humanos possuem uma necessidade inata de estabelecer e manter vínculos afetivos ao longo da vida. Quando essa necessidade não é atendida de forma satisfatória, surge a sensação de isolamento. Esse isolamento social pode ocasionar prejuízos significativos tanto na esfera psicológica quanto na biológica, sendo considerado, inclusive, um fator de risco para o desenvolvimento de doenças graves e, em casos extremos, pode até contribuir para o aumento da mortalidade.
Apesar da constante conectividade proporcionada pelas redes sociais e pela internet, muitas pessoas ainda relatam sentimentos de solidão. Isso ocorre porque a solidão está relacionada, principalmente, à forma como a pessoa percebe sua própria condição de estar só e não apenas à presença ou ausência física de outras pessoas. Assim, estar sozinho não significa, necessariamente, sentir-se solitário, da mesma forma que estar acompanhado não garante a ausência desse sentimento.
A percepção da solidão pode ser agravada quando o indivíduo não consegue encontrar satisfação na própria companhia ou quando percebe que, mesmo cercado por outros, ainda se sente desconectado emocionalmente. Nesses casos, é fundamental observar os próprios hábitos, refletir sobre como têm sido as interações sociais e se existe um distanciamento emocional mesmo nas relações mais próximas. É comum, por exemplo, que se priorize o uso de aparelhos eletrônicos em detrimento de conversas significativas com quem está ao lado. Esse comportamento pode intensificar a sensação de estar só, mesmo em ambientes compartilhados.
Tomar consciência dessas dinâmicas é um passo essencial para lidar de maneira saudável com a solidão. Identificar os sentimentos envolvidos, entender sua origem e buscar estratégias para enfrentá-los são atitudes que promovem maior bem-estar emocional. É possível, por exemplo, ressignificar os momentos a sós, aprendendo a valorizar a própria companhia e reconhecendo que estar sozinho em determinados momentos não implica, necessariamente, em sofrimento.
Além disso, a abertura para o diálogo, seja sobre sentimentos profundos ou sobre aspectos corriqueiros do cotidiano, pode fortalecer os vínculos existentes e contribuir para a diminuição da sensação de isolamento. Compreender o outro, mostrar interesse pelas pessoas com quem se convive e propor pequenas mudanças nas interações diárias são atitudes simples que podem fazer grande diferença.
Em situações nas quais o indivíduo percebe que há uma dificuldade persistente em se aproximar das pessoas ou iniciar interações sociais, é recomendável buscar apoio profissional. A terapia e os treinamentos em habilidades sociais são recursos eficazes que auxiliam no desenvolvimento de competências emocionais e sociais importantes para a construção de relações mais satisfatórias.
Por fim, quando a solidão se apresenta de forma intensa e constante, acompanhada de tristeza profunda, falta de motivação e sofrimento significativo, torna-se imprescindível procurar ajuda especializada. O suporte adequado pode ser decisivo para compreender e lidar com esse sentimento de maneira funcional, preservando a saúde mental e a qualidade de vida.
Referências:
SILVA, Maria Aparecida da; OLIVEIRA, João Paulo de. A solidão na contemporaneidade: implicações para a saúde mental. Revista Brasileira de Saúde Mental, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 45-52, 2018.
CARVALHO, Ana Beatriz Lopes de; SOUZA, Carlos Henrique. Isolamento social e seus efeitos psicológicos: uma análise crítica. Psicologia & Sociedade, São Paulo, v. 30, e20185034, 2018.
PEREIRA, Luciana Mendes; SANTOS, Rafael Tadeu. Solidão e saúde mental: desafios da contemporaneidade. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. 2, e00112319, 2019.
ALMEIDA, Fernanda Cristina; RIBEIRO, Marcos Vinícius. Impactos do isolamento social em tempos de pandemia: revisão integrativa. Revista de Enfermagem UFPE on line, Recife, v. 14, n. 3, p. e243848, 2020.