Compras compulsivas: uma revisão e um relato de caso

04/04/2025

Compras compulsivas: uma revisão e um relato de caso

Por Hermano Tavares, Daniela Sabbatini S Lobo, Daniel Fuentes, Donald W Black

            O transtorno do comprar compulsivo (TCC), descrito inicialmente no início do século XX, continua sendo um tema controverso no campo da psiquiatria, com sua classificação ainda em debate. Este estudo visa realizar uma revisão do transtorno e apresentar um relato de caso, destacando sua relação com transtornos de humor, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtornos do controle de impulso.

A pesquisa foi fundamentada em artigos publicados nas últimas quatro décadas, selecionados por meio das bases de dados Medline e PsycINFO, usando os termos "oniomania" e "compras compulsivas". Também foram considerados outros artigos relevantes identificados nas referências dos trabalhos selecionados.

O TCC é caracterizado como um transtorno crônico e prevalente, com uma incidência global significativa. As pessoas afetadas apresentam características semelhantes aos transtornos do controle do impulso. A prevalência do transtorno é especialmente alta entre as mulheres, que representam mais de 80% dos casos em amostras clínicas. Embora a etiologia do TCC ainda não seja completamente compreendida, existem algumas hipóteses que envolvem fatores neurobiológicos e genéticos. Além disso, o transtorno possui alta taxa de comorbidade com outros distúrbios psiquiátricos, como transtornos do humor, abuso de substâncias, transtornos alimentares e outros transtornos do controle de impulso.

Embora as intervenções psicossociais, particularmente as baseadas no modelo cognitivo-comportamental, tenham mostrado eficácia, os resultados dos tratamentos farmacológicos são mais variáveis e inconclusivos. Portanto, o tratamento deve considerar não apenas o transtorno em si, mas também as comorbidades psiquiátricas associadas. Para um entendimento mais profundo do transtorno, é necessário investigar mais a fundo os aspectos psicopatológicos e neurobiológicos relacionados ao TCC.

Historicamente, o comportamento de comprar remonta à antiga Grécia, quando o comércio e o uso de moeda alteraram a dinâmica de poder na sociedade. No início do século XX, psiquiatras como Kraepelin e Bleuler já haviam descrito o transtorno do comprar compulsivo, referindo-se a ele como uma "impulsividade patológica" que poderia ocorrer de forma incontrolável. No entanto, o transtorno permaneceu em segundo plano por muitas décadas, até que na década de 1990, com a publicação de vários estudos clínicos, voltou a ser objeto de atenção.

A classificação do TCC continua sendo um ponto controverso. Alguns estudiosos consideram o transtorno como uma dependência, enquanto outros sugerem que ele faz parte do espectro do TOC, ou ainda que deve ser classificado entre os transtornos do controle do impulso. Essa falta de consenso contribui para o debate sobre a "medicalização" do comportamento, com algumas correntes defendendo que o transtorno seja visto apenas como um reflexo de dificuldades comportamentais comuns, e não como uma condição patológica.

Diversos estudos realizados nas últimas décadas investigaram a prevalência, o diagnóstico, a etiologia e os tratamentos do TCC. As evidências sugerem que a prevalência do transtorno varia de 2% a 8% da população geral. Embora a maioria dos estudos indique uma predominância feminina (representando de 80% a 94% dos casos), algumas pesquisas mais recentes sugerem que essa diferença de gênero pode não ser tão acentuada como se pensava anteriormente. O transtorno geralmente se manifesta na adolescência ou no início da vida adulta, especialmente com a introdução do crédito e da independência financeira.

O diagnóstico do TCC é realizado com base em critérios que incluem a incapacidade de resistir ao impulso de comprar, a preocupação excessiva com compras e as consequências negativas associadas a esse comportamento. A distinção entre compras normais e compulsivas não é feita apenas com base no valor gasto, mas sim na frequência do comportamento, na angústia pessoal e nas consequências adversas que ele acarreta. Ferramentas como a Escala de Compras Compulsivas (ECC) são frequentemente utilizadas para avaliar a gravidade do transtorno.

Em conclusão, o transtorno do comprar compulsivo é uma condição complexa e multifacetada, que afeta profundamente a vida daqueles que sofrem com ele. As intervenções psicossociais, especialmente as de base cognitivo-comportamental, têm mostrado eficácia, embora os resultados de tratamentos farmacológicos ainda sejam inconclusivos. Identificar e tratar as comorbidades psiquiátricas associadas ao TCC é essencial para o manejo adequado do transtorno. Futuros estudos devem se concentrar em aprofundar o entendimento sobre os aspectos neurobiológicos do transtorno, para que se possa aprimorar as estratégias de diagnóstico e tratamento.

Blog

Informações sobre prevenção, tratamento e recuperação da dependência química e alcoolismo

Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.