Entre o Amor e a Dor: O Desafio de Ser Mãe de um adicto
12/04/2025

Por Raique Almeida
Costuma-se dizer que nenhuma pessoa vai cria um filho esperando que ele se torne um adicto, seja de álcool ou qualquer outra droga. Durante minhas pesquisas sobre o tema dependência química, é comum fazer a seguinte pergunta às pessoas que lutam contra a dependência: “Você gostaria que seu filho usasse drogas?” Sem exceção, todos respondem que não. Pai mãe ou avós não deseja essa realidade para seus filhos.
A chegada de um filho geralmente é motivo de grande alegria. Os pais sonham com o melhor para aquela nova vida. É inconcebível imaginar que alguém criado com amor, carinho e bons valores possa um dia se envolver com drogas e transformar-se a ponto de se tornar irreconhecível. A dor de uma mãe que vê essa transformação é imensa. O sentimento de impotência é devastador. A frustração, profunda.
Muitas mães, movidas pelo amor incondicional, tentam assumir o papel de “mulher-maravilha”. Fazem de tudo, numa tentativa desesperada de salvar o filho da dependência. E, nesse esforço constante, acabam se consumindo. Esquecem que, antes de serem mães, são seres humanos. E, ao tentar salvá-los a qualquer custo, acabam adoecendo junto. A cada promessa quebrada, a cada manipulação, acreditam que dessa vez será diferente. Mas não é. Ser mãe, então, passa a significar sofrimento, angústia e tristeza.
É preciso entender que a dependência química é, sim, uma doença. Mas que, mesmo na doença, o adicto tem poder de decisão sobre sua vida. E que o amor, por mais verdadeiro e intenso, não é suficiente para salvá-lo. Reconhecer essa realidade é o primeiro passo para ajudar de forma saudável.
Alguém disse que o amor de mãe é incondicional. Mas esse amor também precisa ter limites. Os recursos emocionais, psicológicos, financeiros e espirituais vão chegar a um momento que irão se esgotar. Algumas mães chegam a perder até a fé. Há um momento em que não há mais o que fazer. E é aí que muitas entram em depressão, pois se sentem completamente vazias após tantas tentativas de salvar os filhos.
No passado, a mulher era ensinada a dedicar sua vida aos filhos e ao lar. O amor incondicional era visto como um dever. Mas amar incondicionalmente não vai poder aceitar tudo sem limites e impondo limitas em seus filhos. É fundamental saber distinguir apoio de facilitação. Continuar oferecendo regalias, conforto ou privilégios pode ser interpretado como aceitação do uso de drogas ainda que essa nunca tenha sido a intenção.
Reconhecer os próprios limites é essencial. É nesse momento que a mãe deve buscar ajuda não apenas para o filho, mas principalmente para si mesma. É hora de resgatar sua identidade, sua saúde, seu bem-estar. Mãe não é mulher-maravilha. Não precisa ter todas as respostas. Não precisa carregar o peso do mundo nos ombros. Mãe também é gente. Sente dor. Precisa e merece amor, carinho, respeito e cuidado. E esse cuidado começa por ela mesma.
Quando uma mãe começa a cuidar de si, ela pode continuar oferecendo amor, mas com limites claros. Amor que diz: “Eu te amo, mas não aceito as drogas.” Como diz aquela conhecida frase adaptada: “Aceite o pecador, mas não o pecado.”
Que essa mensagem chegue a muitas mães que vivem esse sofrimento em silêncio. Que elas saibam que não estão sozinhas. E que merecem respeito, empatia e acolhimento.
Referências:
Varella, D. (1999). Estação Carandiru. Companhia das Letras.
Fontes, R. (2017). Mães que Amam Demais. Editora Gente.
Maté, G. (2008). In the Realm of Hungry Ghosts. North Atlantic Books.