A Interface Entre o (TOC) E o Uso de Drogas: Riscos e Impactos na Saúde Mental
10/09/2025

Por Raique Almeida
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é uma condição psiquiátrica caracterizada pela presença de pensamentos obsessivos recorrentes e comportamentos compulsivos que visam aliviar a ansiedade causada por essas ideias intrusivas. Trata-se de um transtorno que compromete de forma significativa a qualidade de vida do indivíduo, gerando sofrimento psíquico, dificuldades nas relações sociais e impacto funcional em atividades cotidianas (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Nesse cenário, observa-se que o uso de drogas pode se associar ao TOC de maneira complexa, seja como tentativa de alívio imediato do sofrimento, seja como fator agravante do quadro clínico.
Diversos estudos apontam que o uso de substâncias psicoativas é frequente entre pessoas com transtornos mentais, configurando um quadro de comorbidade que aumenta a gravidade dos sintomas e dificulta o tratamento (CRUZ. 2021). No caso do TOC, o consumo de drogas pode ser entendido como uma estratégia disfuncional de enfrentamento, na medida em que os indivíduos buscam reduzir a ansiedade gerada pelas obsessões. Contudo, esse alívio é temporário e tende a intensificar tanto a dependência quanto a severidade do transtorno, criando um ciclo vicioso de difícil ruptura (ABREU; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2020).
Além disso, há evidências de que o uso de drogas, especialmente estimulantes e alucinógenos, pode precipitar ou agravar sintomas obsessivo-compulsivos em pessoas vulneráveis (NARDI; QUEVEDO, 2017). A alteração dos circuitos neurais relacionados à serotonina e à dopamina, fundamentais na fisiopatologia do TOC, é uma das explicações para essa interação. Assim, ao mesmo tempo em que a droga interfere nos neurotransmissores responsáveis pela regulação do humor e do comportamento, ela também reforça padrões de compulsão, dificultando o controle dos sintomas.
Do ponto de vista clínico, a associação entre TOC e uso de drogas impõe desafios significativos ao tratamento. A literatura ressalta a importância de uma abordagem integrada que contemple tanto o manejo das compulsões quanto a reabilitação da dependência química, considerando aspectos biológicos, psicológicos e sociais (CRUZ. 2021). A terapia cognitivo-comportamental, associada ao uso de psicofármacos, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), apresenta evidências de eficácia, mas seu sucesso é comprometido quando o paciente mantém o uso abusivo de substâncias (ABREU; OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2020).
Portanto, a relação entre TOC e drogas constitui um problema de saúde mental que merece atenção especial, pois ambos os quadros se retroalimentam, aumentando o sofrimento do indivíduo e dificultando a adesão ao tratamento. A compreensão dessa interface é essencial para que profissionais de saúde desenvolvam estratégias terapêuticas mais efetivas e humanizadas, capazes de reduzir os danos e promover a qualidade de vida das pessoas afetadas.
Referências
ABREU, A. P.; OLIVEIRA, M. A.; VASCONCELOS, R. L. Transtorno obsessivo-compulsivo e uso de substâncias: revisão integrativa. Revista de Psicologia e Saúde, v. 12, n. 1, p. 45-57, 2020.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.
CRUZ, D. M. Comorbidade entre transtornos mentais e uso de substâncias: implicações clínicas. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 43, n. 2, p. 123-131, 2021.
NARDI, A. E.; QUEVEDO, J. Transtornos de ansiedade: teoria e clínica. Porto Alegre: Artmed, 2017.