Impactos Sistêmicos do Consumo Prolongado de Álcool no Organismo Humano: Uma Abordagem Integrativa
28/07/2025

Por Raique Almeida
O uso crônico e excessivo de álcool configura um grave problema de saúde pública, com repercussões em múltiplos sistemas do organismo humano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (2023), o álcool é responsável por aproximadamente 5,3% das mortes globais, afetando diretamente a qualidade e a expectativa de vida dos adictos. Os danos se manifestam de forma progressiva e acumulativa, atingindo principalmente os sistemas hepático, gastrointestinal, cardiovascular, neurológico e imunológico.
No fígado, o consumo prolongado de bebidas alcoólicas leva a quadros como esteatose hepática, hepatite alcoólica e, nos casos mais graves, cirrose hepática. Conforme Prado e Lima (2019), essa toxicidade é provocada pela metabolização do etanol em acetaldeído, substância altamente nociva às células hepáticas, que desencadeia inflamações e necroses. A cirrose, por sua vez, compromete funções metabólicas essenciais, aumentando a vulnerabilidade a outras doenças sistêmicas.
No sistema gastrointestinal, o álcool pode causar gastrites erosivas, úlceras gástricas e pancreatite crônica. Além disso, interfere na absorção de nutrientes essenciais, levando à desnutrição e à deficiência de vitaminas, especialmente do complexo B. A deficiência de tiamina (vitamina B1) está associada ao desenvolvimento da Síndrome de Wernicke-Korsakoff, um distúrbio neurológico grave caracterizado por confusão mental, desorientação, alterações oculomotoras e amnésia persistente (Silva. 2021).
As repercussões neurológicas e psiquiátricas do uso prolongado de álcool são igualmente preocupantes. Além da diminuição das funções cognitivas, há maior risco de desenvolvimento de transtornos do humor, como depressão e ansiedade, e de síndromes demenciais precoces. De acordo com Ribeiro e Fonseca (2020), o álcool age como um depressor do sistema nervoso central, provocando desde alterações comportamentais até quadros psicóticos em adictos crônicos.
Em relação ao sistema cardiovascular, o álcool contribui para a elevação da pressão arterial, arritmias cardíacas e miocardiopatia alcoólica. Essas condições aumentam significativamente o risco de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (Medeiro. 2020). Adicionalmente, o sistema imunológico sofre comprometimentos, resultando em maior predisposição a infecções respiratórias, tuberculose e complicações inflamatórias sistêmicas.
Portanto, o uso contínuo de álcool compromete gravemente a saúde física e mental dos indivíduos, exigindo estratégias eficazes de prevenção, tratamento e reabilitação. A abordagem integrada, aliando ações de saúde pública, suporte psicológico e políticas sociais, é fundamental para conter os impactos nocivos dessa substância sobre o corpo humano.
Referências
MEDEIROS, G. C.; TAVARES, T. M.; OLIVEIRA, A. L. Efeitos do consumo crônico de álcool sobre o sistema cardiovascular. Revista Brasileira de Cardiologia, v. 33, n. 2, p. 145–152, 2020.
PRADO, M. A.; LIMA, R. G. Hepatopatias associadas ao consumo de álcool: uma revisão. Revista de Gastroenterologia do Brasil, v. 26, n. 3, p. 203–210, 2019.
RIBEIRO, L. F.; FONSECA, M. A. Transtornos mentais relacionados ao uso abusivo de álcool: uma análise neuropsiquiátrica. Revista Brasileira de Saúde Mental, v. 12, n. 1, p. 45–58, 2020.
SILVA, M. N. Impactos neurológicos do alcoolismo crônico: uma revisão sistemática. Revista Neurociência Atual, v. 17, n. 1, p. 55–63, 2021.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório global sobre álcool e saúde 2023. Genebra: OMS, 2023.