Saúde Mental dos Professores e o Uso Descontrolado de Medicamentos: Desafios e Implicações

13/09/2025

Saúde Mental dos Professores e o Uso Descontrolado de Medicamentos: Desafios e Implicações

Por Raique Almeida

            A saúde mental dos professores tem se tornado um tema de grande relevância no cenário educacional contemporâneo, especialmente diante das exigências crescentes impostas pelo trabalho docente. A pressão por resultados, a sobrecarga de tarefas e a ausência de condições adequadas para o exercício da profissão contribuem para o surgimento de quadros de estresse, ansiedade e depressão entre os profissionais da educação (CODO, 2006). Neste contexto, observa-se um aumento significativo do uso de medicamentos psicotrópicos como forma de lidar com as demandas cotidianas, o que levanta debates acerca do uso indiscriminado e das consequências a longo prazo para a saúde desses trabalhadores.

            Segundo Dejours (1992), o sofrimento psíquico no trabalho está diretamente ligado à organização e às condições laborais, e, no caso dos professores, esse sofrimento se manifesta de maneira acentuada devido ao caráter emocional da profissão e à responsabilidade pela formação de indivíduos. Muitas vezes, a medicalização aparece como uma alternativa rápida para lidar com sintomas de adoecimento mental, mas não atinge a raiz do problema, apenas atenuando momentaneamente os sinais de exaustão (ILLICH, 1975).

            Além disso, pesquisas recentes demonstram que os professores estão entre as categorias profissionais que mais utilizam ansiolíticos e antidepressivos, em razão das altas taxas de burnout e de transtornos de ansiedade diagnosticados (SILVA; COSTA; SOARES, 2021). O fenômeno da medicalização, ao invés de propor soluções estruturais, mascara a precarização das condições de trabalho e transfere a responsabilidade do adoecimento para o indivíduo. Tal perspectiva reforça a ideia de que o problema pode ser resolvido apenas pela via biomédica, desconsiderando fatores sociais, institucionais e pedagógicos que influenciam diretamente o bem-estar do professor (CONSTANTINO; VILELA, 2020).

            Nessa direção, é importante refletir sobre alternativas que ultrapassem a lógica da medicalização. Estratégias de promoção da saúde mental, como espaços de escuta, práticas integrativas e fortalecimento das redes de apoio, podem oferecer suporte mais efetivo e sustentável ao docente. Para Freire (1996), a educação deve ser entendida como um processo dialógico e humanizador; assim, pensar a saúde mental dos professores significa também considerar a qualidade das relações que se estabelecem dentro e fora da escola.

            Portanto, a relação entre saúde mental de professores e uso descontrolado de medicamentos precisa ser compreendida de maneira crítica e contextualizada. O enfrentamento desse desafio exige não apenas a ampliação do acesso a tratamentos adequados, mas também a implementação de políticas públicas que valorizem o trabalho docente, promova condições mais justas e reconheçam a complexidade da prática educativa. Dessa forma, será possível reduzir a medicalização excessiva e contribuir para a construção de um ambiente escolar mais saudável e equilibrado.

Referências

CODO, Wanderley. Educação: carinho e trabalho. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2006.

CONSTANTINO, Fabiane; VILELA, Eveline. Medicalização da vida e sofrimento psíquico docente. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 46, e227811, p. 1-15, 2020.

DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

ILLICH, Ivan. A expropriação da saúde: nêmesis da medicina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

SILVA, Mariana; COSTA, Luciana; SOARES, Pedro. Uso de psicotrópicos e sofrimento mental entre professores da educação básica. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 46, n. 2, p. 1-12, 2021.

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