Narcos e a Expansão da Cocaína: Reflexos Globais e Impactos no Brasil
14/09/2025

Por Raique Almeida
A série Narcos, lançada em 2015 pela Netflix, retrata a ascensão do narcotráfico na Colômbia, tendo como figura central Pablo Escobar, líder do Cartel de Medellín. A produção não apenas dramatiza a trajetória do crime organizado, mas também evidencia a complexa rede social, econômica e política que permitiu o crescimento da cocaína como mercadoria global. Segundo Silva (2017), a série desempenha um papel importante ao aproximar o público da realidade histórica e ao mostrar como a droga, inicialmente restrita a grupos específicos, se expandiu e se consolidou como fenômeno mundial.
A popularização da cocaína está ligada ao contexto de globalização e à alta lucratividade desse mercado ilícito. De acordo com Fiore (2012), a droga ganhou destaque nos anos 1970 e 1980, quando passou a ser consumida em larga escala por camadas médias e altas da sociedade, associada a status, poder e prazer imediato. Nesse período, os cartéis colombianos consolidaram rotas de exportação para os Estados Unidos e a Europa, movimentando bilhões de dólares e corrompendo instituições políticas e policiais (SOUZA, 2020).
No Brasil, a presença da cocaína intensificou-se a partir dos anos 1980, quando o país deixou de ser apenas rota de tráfico para tornar-se também um dos principais mercados consumidores da América Latina. Esse fenômeno está ligado tanto à posição geográfica estratégica quanto ao aumento da desigualdade social, que facilitou a penetração das organizações criminosas em territórios vulneráveis (CARVALHO; RODRIGUES, 2018). Como observa Labate (2015), o consumo de cocaína no Brasil não está restrito às elites, mas se dissemina em todas as camadas sociais, revelando a complexidade da questão.
A série Narcos contribui para o debate ao revelar que o narcotráfico não é apenas uma questão criminal, mas também política e cultural. O impacto da cocaína ultrapassa fronteiras e envolve tanto a violência urbana quanto os efeitos devastadores da dependência química. No caso brasileiro, o fortalecimento de facções ligadas ao comércio da droga, como o Comando Vermelho e o PCC, mostra que o problema não é apenas de saúde pública, mas também de segurança e governança (BARROS, 2019).
Assim, a expansão da cocaína, retratada de forma dramatizada em Narcos, permite compreender como a droga se enraizou nas sociedades contemporâneas, sendo sustentada pela lógica do mercado global e por estruturas sociais marcadas pela desigualdade. A série funciona, portanto, não apenas como entretenimento, mas como um recurso crítico para refletir sobre os impactos do narcotráfico na Colômbia, no Brasil e no mundo.
Referências
BARROS, M. A economia do tráfico e a violência urbana. São Paulo: Boitempo, 2019.
CARVALHO, S.; RODRIGUES, T. Narcotráfico e políticas de drogas no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018.
FIORE, M. Uso de drogas: controvérsias médicas e debate público. São Paulo: Editora Fiocruz, 2012.
LABATE, B. Drogas e cultura: novas perspectivas. Campinas: Mercado de Letras, 2015.
SILVA, J. Narcos e a representação do narcotráfico na cultura popular. Revista Brasileira de Estudos de Mídia, v. 4, n. 2, p. 145-160, 2017.