O Quinto Passo do Alcoólicos Anônimos: Confissão, Honestidade e Transformação Pessoal
19/08/2025

Por Raique Almeida
O Alcoólicos Anônimos (AA) é uma comunidade de ajuda mútua que busca oferecer suporte a pessoas que enfrentam problemas relacionados ao consumo de álcool. Fundado em 1935 por Bill Wilson e Dr. Bob Smith nos Estados Unidos, o AA desenvolveu o programa de Doze Passos, considerado uma metodologia eficaz para a recuperação da dependência química (Kurtz, 1991; Alcoholics Anonymous, 2001). Cada passo propõe ações específicas que incentivam a reflexão pessoal, a mudança de comportamentos e o fortalecimento de vínculos de apoio social.
O Quinto Passo, em particular, preconiza que o indivíduo “admitisse a Deus, a si mesmo e a outro ser humano, a natureza exata de suas falhas” (Alcoholics Anonymous, 2001). Este passo marca a transição do autoconhecimento introspectivo, trabalhado principalmente no Quarto Passo, que envolve um inventário moral completo para a externalização das descobertas. A prática da confissão é vista como crucial para a liberação emocional, o desenvolvimento da humildade e a construção de relações mais autênticas.
Segundo Galanter e Kaskutas (2008), o ato de compartilhar vulnerabilidades com outra pessoa promove a diminuição do isolamento emocional, uma característica comum em indivíduos com dependência alcoólica. A confissão no Quinto Passo também atua como uma forma de responsabilização, pois ao verbalizar os erros e falhas, o indivíduo reconhece concretamente suas ações e seus impactos sobre si e sobre os outros (Kurtz, 1991). Dessa maneira, o passo contribui para o fortalecimento da autoeficácia, sentimento essencial para a manutenção da sobriedade a longo prazo.
Do ponto de vista psicológico, a prática do Quinto Passo dialoga com conceitos de psicoterapia e bem-estar emocional, especialmente no que se refere à redução de sentimentos de culpa e vergonha. Brown e Lewis (2011) destacam que admitir falhas de forma estruturada em um ambiente seguro favorece a integração da experiência vivida, permitindo que o indivíduo construa uma narrativa de vida mais coerente e resiliente. Além disso, a presença de um ouvinte confiável, seja um padrinho/madrinha do AA ou outro membro da comunidade, potencializa o efeito terapêutico da confissão, proporcionando apoio, empatia e orientação.
Por fim, o Quinto Passo não é apenas um ato de confissão, mas também um exercício de transformação pessoal e espiritualidade prática. A espiritualidade, ainda que entendida de forma ampla e não necessariamente religiosa, está presente na dimensão de entrega e aceitação de que mudanças significativas exigem honestidade, humildade e apoio mútuo (Alcoholics Anonymous, 2001; Galanter & Kaskutas, 2008).
O Quinto Passo do AA é fundamental para o processo de recuperação do alcoolismo, pois combina autoconhecimento, confissão, responsabilidade e espiritualidade. Estudos e relatos de experiência indicam que a prática regular desse passo contribui para a diminuição do isolamento, melhora das relações interpessoais e fortalecimento da sobriedade. Assim, ele exemplifica como estratégias estruturadas de apoio comunitário podem gerar impactos profundos na transformação pessoal de indivíduos em processo de recuperação.
Referências
Alcoholics Anonymous. (2001). Alcoólicos Anônimos: O Livro Azul. 4ª edição. Rio de Janeiro: Edições AA.
Brown, S., & Lewis, J. (2011). Spirituality and recovery in addiction. Journal of Substance Abuse Treatment, 41(1), 48–55.
Galanter, M., & Kaskutas, L. (2008). Research on Alcoholics Anonymous: Opportunities and Alternatives. Psychiatry, 71(3), 253–258.
Kurtz, E. (1991). Not-God: A History of Alcoholics Anonymous. Center City, MN: Hazelden.