O Sétimo Passo no Alcoólicos Anônimos: Humildade como Caminho de Transformação
20/08/2025

Por Raique Almeida
O sétimo passo dos Alcoólicos Anônimos, expresso no convite para que o dependente químico “se humilhe a Deus, pedindo que lhe remova as suas imperfeições”, carrega em si um profundo valor psicológico e espiritual. Trata-se de um momento em que o indivíduo, após reconhecer suas falhas, adquire coragem para entregar-se a uma força maior, seja ela compreendida em termos religiosos ou simbólicos, como a coletividade ou o próprio processo de recuperação.
Segundo Jung (2002), o sofrimento humano frequentemente nasce da tentativa de sustentar uma imagem de autossuficiência, negando a própria vulnerabilidade. Nesse sentido, o sétimo passo rompe com o narcisismo defensivo, permitindo ao dependente reconhecer-se limitado e, paradoxalmente, mais forte ao admitir a necessidade de ajuda. Carl Rogers (1997), por sua vez, aponta que a verdadeira mudança acontece quando a pessoa assume sua condição de incongruência e se abre à experiência de aceitação e crescimento.
Ao praticar a humildade, o dependente em recuperação afasta-se da lógica da onipotência que sustenta a adicção. Como lembra Boff (2000), a humildade não é submissão, mas uma forma de grandeza: ela reconecta o ser humano com a sua essência, abrindo espaço para a compaixão e para o cuidado de si. Assim, o sétimo passo não é apenas um ato de fé, mas também uma ferramenta terapêutica de reorganização interna.
Portanto, o sétimo passo convida a um gesto instigante: transformar a fraqueza em potência, a limitação em abertura para o novo. Nesse movimento, o dependente não apenas pede a remoção de suas imperfeições, mas aprende a conviver com elas em um processo contínuo de humildade e reconstrução de si.
Referências
BOFF, Leonardo. Virtudes para um outro mundo possível: convivência, respeito e tolerância. Petrópolis: Vozes, 2000.
JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. 17. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.