Adicção e Distúrbios do Sono: Impactos Neuropsicológicos e Consequências à Saúde
06/08/2025

Por Raique Almeida
A relação entre adicção e distúrbios do sono constitui uma preocupação crescente nas áreas da saúde pública, psicologia e neurociência. Diversos estudos apontam que o uso abusivo de substâncias psicoativas afeta significativamente os ritmos biológicos e os padrões do sono, provocando alterações neuroquímicas que comprometem a qualidade de vida dos indivíduos.
O sono é uma função biológica fundamental para a homeostase corporal e para a consolidação da memória, do aprendizado e do equilíbrio emocional. Segundo Ferreira e Tufik (2012), alterações na arquitetura do sono podem resultar em déficits cognitivos, instabilidade emocional e maior vulnerabilidade a doenças. Quando associado à dependência química, esse cenário se agrava consideravelmente.
Substâncias como álcool, cocaína, anfetaminas, cannabis e opioides possuem efeitos diretos sobre o sistema nervoso central, alterando a produção e a regulação de neurotransmissores como dopamina, serotonina e GABA. Essas alterações impactam diretamente os ciclos circadianos e reduzem as fases profundas do sono, como o sono REM, essenciais para o funcionamento cognitivo e emocional (Schenberg et al., 2014).
A privação crônica do sono, frequentemente relatada por indivíduos em uso contínuo de substâncias ou em processo de abstinência, está associada ao aumento de comportamentos impulsivos, irritabilidade, dificuldades de concentração e recaídas. Conforme aponta Volkow et al. (2009), a desregulação do sono pode atuar tanto como consequência quanto como fator de manutenção da adicção, criando um ciclo de retroalimentação entre o vício e os prejuízos à saúde mental.
Além disso, os impactos sobre o sono contribuem para o comprometimento do funcionamento social e ocupacional, dificultando a reinserção e a adesão aos tratamentos terapêuticos. Por isso, os distúrbios do sono devem ser considerados na abordagem clínica de dependência química, com estratégias que integrem cuidados farmacológicos, terapias cognitivas e educação sobre higiene do sono.
Nesse contexto, a compreensão dos efeitos da adicção sobre o sono não pode ser desvinculada de uma análise interdisciplinar que inclua aspectos neurobiológicos, comportamentais e sociais. O tratamento eficaz da dependência deve, portanto, reconhecer a importância do sono como elemento central da recuperação e da saúde integral.
Referências
FERREIRA, V. R.; TUFIK, S. O sono como marcador de saúde e qualidade de vida. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 191-193, 2012.
SCHENBERG, E. E. et al. Substâncias psicoativas e sono: interações e implicações clínicas. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 63, n. 1, p. 54-62, 2014.
VOLKOW, N. D. et al. Sleep deprivation decreases the brain dopamine D2 receptor availability in the human brain. Journal of Neuroscience, Washington, v. 29, n. 8, p. 2798–2803, 2009.