Amor e Resiliência: A Vivência de Filhos com Pais em Dependência Química
10/08/2025

Por Raique Almeida
A experiência de ter um pai dependente químico é, para muitos filhos, marcada por um misto de desafios e aprendizados. Embora o uso de substâncias possa gerar instabilidade e sofrimento, o vínculo afetivo e a capacidade de resiliência familiar emergem como forças que, muitas vezes, superam as adversidades. A relação parental, mesmo atravessada pela dependência, pode ser espaço de afeto, compreensão e construção de esperança, especialmente quando há abertura para o diálogo e a busca por tratamento.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019), a dependência química é uma condição crônica que afeta não apenas o indivíduo, mas também todo o sistema familiar. Para os filhos, essa realidade pode gerar inseguranças, mas também estimula o desenvolvimento precoce de habilidades emocionais, como empatia e responsabilidade. Rogers (2009) destaca que o relacionamento humano, baseado na autenticidade e na escuta ativa, pode ser transformador mesmo em contextos adversos, sendo fundamental para que os filhos compreendam que a identidade do pai vai além do seu problema com as drogas.
Muitas vezes, os filhos tornam-se motivadores para o processo de recuperação. Quando a figura paterna demonstra, ainda que de forma gradual, empenho na superação da dependência, isso gera nos filhos sentimentos de orgulho e confiança. Boff (1999) ressalta que o cuidado é um ato de amor capaz de restaurar vínculos e reconstruir vidas. Assim, o afeto presente na relação pai-filho pode se transformar em um elemento de apoio emocional decisivo no tratamento.
Ao enxergar o pai como uma pessoa em processo, e não apenas como um “dependente químico”, os filhos aprendem sobre perdão, paciência e acolhimento. Essa visão humanizada permite compreender que todos estão sujeitos a fragilidades, mas que o amor é uma força capaz de impulsionar mudanças significativas. De acordo com Araújo e Moreira (2016), a convivência familiar, quando fortalecida por laços afetivos, contribui de forma direta para a adesão ao tratamento e a prevenção de recaídas.
Assim, ter um pai em situação de dependência química, embora seja um desafio, pode também ser um caminho para que os filhos desenvolvam resiliência e uma visão mais profunda sobre a vida. Ao valorizar as conquistas, celebrar os pequenos avanços e cultivar o amor incondicional, constrói-se uma narrativa na qual a superação é possível e a família se torna espaço de renovação e esperança.
Referências
ARAÚJO, Ludmila S.; MOREIRA, José O. Família e dependência química: desafios e possibilidades. Revista Psicologia em Estudo, Maringá, v. 21, n. 4, p. 723-734, 2016.
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-11. Genebra: OMS, 2019.
ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.