O consumo de drogas pelo nariz e seus impactos à saúde: riscos invisíveis de uma prática comum
24/08/2025

Por Raique Almeida
O consumo de drogas ilícitas por via intranasal, também conhecido como aspiração ou inalação, tem se tornado uma prática recorrente entre jovens e adultos, especialmente no uso de substâncias como a cocaína e o crack em pó. Essa forma de consumo, muitas vezes subestimada em seus riscos, possui efeitos graves tanto a curto quanto a longo prazo, envolvendo não apenas o sistema respiratório e cardiovascular, mas também a esfera psicológica e social do indivíduo. De acordo com Carlini. (2017), o uso de drogas no Brasil permanece um problema de saúde pública que demanda atenção, já que sua banalização, em diferentes formas de consumo, favorece a progressão da dependência química e o aumento de complicações médicas.
Quando a droga é aspirada pelo nariz, ela entra em contato direto com a mucosa nasal, atingindo rapidamente a corrente sanguínea e provocando efeitos quase imediatos, como euforia, aumento de energia e redução da fadiga. No entanto, tais efeitos positivos são passageiros, dando lugar a sérios prejuízos fisiológicos. Estudos apontam que o uso frequente provoca inflamação das mucosas, rinite crônica, perfuração do septo nasal e hemorragias constantes (BASSO; GONÇALVES; MELLO, 2019). Além disso, a prática compromete a capacidade respiratória e favorece o surgimento de infecções oportunistas, já que a barreira natural da mucosa passa a ser destruída.
Outro ponto de destaque refere-se às repercussões no sistema cardiovascular. A cocaína, droga comumente utilizada por via intranasal, é um potente vasoconstritor, podendo gerar arritmias, hipertensão e risco elevado de infarto agudo do miocárdio, mesmo em pessoas jovens e aparentemente saudáveis (ABREU; TAVARES, 2018). Essa relação mostra que os efeitos do consumo não se restringem ao nariz, mas se estendem a todo o organismo, reforçando a gravidade do hábito.
No campo psicológico, o consumo por via intranasal está associado à rápida instalação da dependência, uma vez que a substância chega de maneira acelerada ao sistema nervoso central. Os adictos experimentam compulsão, ansiedade, paranoia e, em casos mais graves, episódios psicóticos (CARLINI, 2010). A busca incessante pelo efeito inicial contribui para o aumento da frequência do uso, potencializando os danos físicos e psíquicos, além de comprometer vínculos sociais e familiares.
Assim, os perigos do consumo de drogas pelo nariz revelam-se em múltiplas dimensões, indo além do imediato prazer que os adictos buscam. Trata-se de um processo de autodestruição silenciosa, que compromete a saúde integral e favorece a deterioração da qualidade de vida. Nesse sentido, compreender esses riscos é fundamental para a formulação de políticas públicas de prevenção e tratamento, além de campanhas educativas que alertem a população sobre os efeitos nocivos dessa prática. Como afirma Laranjeira (2012), a informação clara e baseada em evidências científicas constitui-se em um dos instrumentos mais eficazes para o enfrentamento da dependência química. Portanto, desmistificar o consumo intranasal e expor suas consequências é um passo essencial no combate à expansão do uso de drogas e na proteção da saúde coletiva.
Referências
ABREU, Patrícia Nogueira de; TAVARES, Hermano. Transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. São Paulo: Manole, 2018.
BASSO, Jefferson; GONÇALVES, João Pedro; MELLO, Ricardo. Complicações clínicas do uso intranasal de cocaína: uma revisão. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 41, n. 3, p. 245-252, 2019.
CARLINI, Elisaldo Luiz de Araújo. O consumo de drogas psicotrópicas no Brasil. São Paulo: CEBRID/UNIFESP, 2010.
CARLINI, Elisaldo Luiz de Araújo et al. II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD). São Paulo: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD), 2017.
LARANJEIRA, Ronaldo. Prevenção ao uso de drogas: o que funciona e o que não funciona. São Paulo: Artmed, 2012.