Uso de Drogas em Encontros de Paredões de Som: Um Fenômeno Sociocultural e de Saúde Pública

15/07/2025

Uso de Drogas em Encontros de Paredões de Som: Um Fenômeno Sociocultural e de Saúde Pública

Por Raique Almeida

            O uso de substâncias psicoativas em encontros de paredões de som configura-se como uma prática recorrente em diversas regiões do Brasil, especialmente nas periferias urbanas e zonas rurais do Nordeste. Esses eventos, que misturam lazer, música em alto volume e socialização, acabam funcionando como espaços propícios ao consumo de álcool e outras drogas, especialmente entre jovens. Embora muitos participantes busquem apenas entretenimento, a ausência de regulação e fiscalização eficaz transforma tais encontros em ambientes vulneráveis, onde o uso de substâncias se normaliza, intensificando riscos à saúde física, mental e à segurança pública. Segundo Ribeiro. (2021), há uma relação direta entre o contexto festivo, a permissividade social e o aumento do consumo de substâncias, destacando-se o álcool, maconha, drogas sintéticas e, em alguns casos, o crack.

            A naturalização do uso de drogas nesses eventos revela uma série de fatores sociais e culturais que favorecem o comportamento de risco, como a busca por pertencimento grupal, a pressão entre pares e a valorização de uma masculinidade associada ao excesso e à resistência. Além disso, muitos desses encontros ocorrem em espaços sem estrutura sanitária, com ausência de serviços de saúde ou segurança, o que agrava ainda mais a vulnerabilidade dos frequentadores. De acordo com Silva e Andrade (2020), jovens em situação de marginalização social tendem a encontrar nesses eventos um espaço de afirmação identitária e fuga das dificuldades cotidianas, o que potencializa o consumo de substâncias como forma de experimentação ou alívio emocional.

            Outro aspecto relevante é o impacto das redes sociais, que amplificam a visibilidade e o prestígio desses encontros, alimentando a cultura do excesso e da exposição. A exibição de comportamentos de risco, como o uso aberto de drogas, torna-se parte de uma estética performática valorizada nesses espaços, segundo Gomes e Costa (2019). Esse fenômeno demanda atenção das políticas públicas de saúde e educação, que ainda tratam o tema com distanciamento ou estigmatização, falhando em construir estratégias de redução de danos ou diálogo com os jovens envolvidos. Em vez de proibição ou repressão direta, autores como Bastos (2017) defendem abordagens comunitárias e participativas, que compreendam as dinâmicas culturais desses eventos e proponham ações integradas de conscientização, cuidado e acolhimento.

            Portanto, os encontros de paredões de som não devem ser vistos apenas como expressão cultural ou problema de segurança, mas como espaços complexos, onde múltiplas questões sociais, afetivas e de saúde se entrelaçam. Reconhecer o uso de drogas nesse contexto como um fenômeno que exige intervenção intersetorial e sensível à realidade local é um passo fundamental para enfrentar os danos associados ao consumo abusivo e promover políticas públicas mais eficazes.

Referências

BASTOS, Francisco Inácio Pinkusfeld Monteiro. Drogas e sociedade: perspectivas para a saúde pública. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2017.

GOMES, Tainara da Silva; COSTA, Alexandro dos Santos. Cultura do excesso e juventude: práticas e sentidos em festas de paredão no Nordeste brasileiro. Revista Brasileira de Estudos da Juventude, v. 7, n. 1, p. 98-113, 2019.

RIBEIRO, Laís Cristina; SOUZA, João Paulo; OLIVEIRA, Jéssica Fernanda. O consumo de drogas em festas populares: percepções e práticas entre jovens. Revista de Psicologia da Saúde, v. 13, n. 2, p. 45-59, 2021.

SILVA, Mariana Lopes da; ANDRADE, Bruno Henrique. Juventudes, vulnerabilidades e sociabilidades em festas de rua: uma análise sobre o uso de substâncias psicoativas. Revista Políticas Públicas e Cidadania, v. 6, n. 11, p. 27-42, 2020.

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