O Impacto da Adicção no Controle da Hipertensão
14/08/2025

Por Raique Almeida
A adicção, definida como um transtorno crônico caracterizado pela busca compulsiva e uso persistente de substâncias psicoativas ou pela repetição de comportamentos prejudiciais, representa um desafio significativo para o manejo clínico da hipertensão arterial sistêmica (HAS). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), o uso nocivo de álcool, tabaco e drogas ilícitas contribui para o aumento da pressão arterial, eleva o risco de complicações cardiovasculares e agrava a progressão de doenças associadas, tornando-se um problema de saúde pública global.
A hipertensão arterial é uma condição clínica definida por níveis persistentemente elevados de pressão arterial (≥140/90 mmHg), sendo um dos principais fatores de risco para eventos cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2022). O tratamento adequado envolve mudanças no estilo de vida — incluindo alimentação balanceada, prática de atividade física regular e abandono de hábitos nocivos, além do uso de fármacos anti-hipertensivos e monitoramento periódico.
Entretanto, a presença de adicção compromete diretamente a adesão a essas medidas. O consumo de álcool, por exemplo, exerce efeito dose-dependente sobre a pressão arterial: pequenas quantidades podem ter efeito neutro ou até benéfico, mas o uso crônico e excessivo aumenta a atividade do sistema nervoso simpático, promove retenção de sódio e eleva os níveis pressóricos (BRIEN et al., 2011). Já o tabagismo, por meio da nicotina, provoca vasoconstrição aguda, elevação temporária da pressão arterial e aceleração do processo aterosclerótico (BENOWITZ, 2010).
O uso de drogas estimulantes, como cocaína e metanfetaminas, é ainda mais preocupante, pois pode desencadear picos hipertensivos graves, arritmias e emergências cardiovasculares fatais (VONGPISUTTHIPONG et al., 2016). Além disso, a adicção frequentemente está associada a comorbidades psiquiátricas, como depressão e ansiedade, que dificultam a adesão ao tratamento anti-hipertensivo e aumentam a vulnerabilidade social.
Do ponto de vista fisiopatológico, a adicção interfere nos mecanismos reguladores da pressão arterial, como o sistema renina-angiotensina-aldosterona, a modulação autonômica e o equilíbrio eletrolítico. Também prejudica hábitos de vida, levando à má alimentação, sedentarismo e descuido com o uso regular dos medicamentos.
O manejo clínico de pacientes com hipertensão e adicção requer abordagem multiprofissional, integrando cardiologistas, clínicos gerais, psiquiatras, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais. Intervenções combinadas, como aconselhamento motivacional, tratamento medicamentoso, programas de reabilitação e suporte comunitário, têm mostrado melhores resultados no controle pressórico e na prevenção de recaídas.
Portanto, a compreensão do impacto da adicção na hipertensão é fundamental para a formulação de estratégias de prevenção, políticas públicas de saúde e protocolos clínicos mais efetivos. Apenas com uma abordagem integrada e centrada no paciente será possível reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas por essas duas condições.
Referências
BENOWITZ, N. L. Nicotine Addiction. New England Journal of Medicine, v. 362, n. 24, p. 2295-2303, 2010.
BRIEN, S. E. et al. Effect of Alcohol Consumption on Blood Pressure: A Systematic Review and Meta-Analysis. The Lancet, v. 375, n. 9723, p. 1335-1344, 2011.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório Global sobre Hipertensão. Genebra: OMS, 2021.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC). Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2022. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 118, supl. 1, 2022.
VONGPISUTTHIPONG, A. et al. Hypertensive Crisis Associated with Methamphetamine and Cocaine Use. Clinical Hypertension, v. 22, n. 4, 2016.