O Impacto da Adicção no Controle do Diabetes
14/08/2025

Por Raique Almeida
A adicção, entendida como um transtorno crônico caracterizado pela busca compulsiva e pelo uso continuado de substâncias psicoativas ou pela prática de comportamentos compulsivos, mesmo diante de consequências negativas (APA, 2014), representa um desafio adicional no manejo do diabetes mellitus. Essa interação entre condições pode agravar o quadro clínico, comprometer a adesão ao tratamento e aumentar a morbimortalidade.
O diabetes mellitus é uma doença metabólica caracterizada por hiperglicemia persistente decorrente de defeitos na secreção ou ação da insulina (ADA, 2023). O controle glicêmico adequado exige disciplina no uso de medicamentos, prática regular de atividade física, alimentação equilibrada e monitoramento constante dos níveis de glicose. Contudo, a presença de adicção seja a substâncias como álcool, tabaco e drogas ilícitas, ou a comportamentos como o jogo e a compulsão alimentar pode dificultar esses cuidados.
Estudos demonstram que o consumo de álcool e outras drogas pode levar a flutuações significativas da glicemia, aumentar o risco de hipoglicemias, prejudicar a função hepática e comprometer a percepção de sintomas de descompensação (JACOBSE. 2020). Além disso, a adicção está frequentemente associada a transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, que, por sua vez, afetam a motivação e a adesão ao tratamento (WHO, 2019).
Do ponto de vista fisiopatológico, substâncias psicoativas podem influenciar negativamente a sensibilidade à insulina e o metabolismo da glicose, enquanto o comportamento aditivo interfere nas rotinas de autocuidado. Nesse sentido, o manejo integrado que envolva equipes multiprofissionais incluindo endocrinologistas, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais torna-se essencial para melhorar o prognóstico.
Assim, a relação entre adicção e diabetes demanda uma abordagem interdisciplinar e centrada no paciente, considerando tanto os aspectos biológicos quanto os psicossociais. Políticas públicas e estratégias de cuidado integrado podem reduzir os impactos dessa coexistência e favorecer a qualidade de vida.
Referências
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE DIABETES (ADA). Padrões de Cuidado Médico no Diabetes – 2023. Diabetes Care, 46(Supl. 1): S1–S200, 2023.
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). 5. ed. Arlington: APA, 2014.
JACOBSEN, L. et al. Uso de Substâncias e Diabetes: Impacto no Controle Glicêmico e nas Complicações. Journal of Diabetes and Its Complications, v. 34, n. 8, 107634, 2020.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório Global sobre Álcool e Saúde. Genebra: OMS, 2019.